A alma é um cenário.
Por vezes, ela é como uma manhã brilhante e fresca,
inundada de alegria.
Por vezes ela é como um pôr do sol...
triste e nostálgico.

-Rubem Alves-

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domingo, 10 de junho de 2007

"CANÇÃO OUTONAL"



Hoje sinto no coração
um vago tremor de estrelas
mas minha senda se perde
na névoa da alma.
A luz me quebra as asas
e a dor de minha tristeza
vai molhando as recordações
na fonte da idéia.

Todas as rosas são brancas,
tão brancas quanto minha pena,
e não são rosas brancas
porque nevou sobre elas.
Antes tiveram o íris.
Também sobre a alma neva.
A neve da alma tem
Copos de beijos e cenas
que se fundiram nas sombras
ou na luz de quem as pensa.

A neve cai das rodas
Mas a da alma fica
E a garra dos anos
Faz um sudário com elas.

Desfazer-se-á a neve
quando a morte nos levar?
Ou depois haverá outra neve
e outras rosas mais perfeitas?
Haverá paz entre nós
como Cristo nos ensina?
Ou nunca será possível
a solução do problema?

E se o amor nos engana?
Quem a vida nos alenta
se o crepúsculo nos funde
na verdadeira ciência
do Bem que quiçá não exista,
e do mal que palpita perto?

Se a esperança se apaga
e a Babel começa,
que tocha iluminará
os caminhos da Terra?


Se o azul é um sonho
que será da inocência?
Que será do coração
se o Amor não tem flechas?

Se a morte é morte,
que será dos poetas
e das coisas adormecidas
que já ninguém delas se recorda?
Oh! sol das esperanças!
Água clara! Lua Nova!
Corações dos meninos!
Almas rudes das pedras!
Hoje sinto no coração
um vago tremor de estrelas
e todas as coisas são
tão brancas quanto minha pena.


Frederico Garcia Lorca

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