A alma é um cenário.
Por vezes, ela é como uma manhã brilhante e fresca,
inundada de alegria.
Por vezes ela é como um pôr do sol...
triste e nostálgico.

-Rubem Alves-

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terça-feira, 30 de agosto de 2011

2° MADRIGAL


Quis dar em versos
a dor da tua ausência;
mas depois vi que vivias dentro de mim
eu é que tinha partido.

¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

Eu morrerei.
E nos outros serei a recordação
dum grande pássaro selvagem
que bateu as asas
longamente. . .
longamente. . .
Enquanto se ouvir
o eco das minhas asas,
terei a vida das aves.

Isabel Meyrelles
Palavras Noturnas & Outros Poemas

terça-feira, 23 de agosto de 2011

CANÇÃO DO INVERNO

Faz tempo que cai
a chuva cinzenta
no longo vazio
da rua onde, lenta,

minha alma vai
como nevoenta
brisa em que se embala
a chuva cinzenta.

E faz-se a canção
do inverno assim:
com as cinzas da chuva
e o frio de mim.

Ruy Espinheira Filho
In Sob o Céu de Samarcanda

Isabel Meyrelles


Os meus olhos
olham os meus olhos,
para lá da janela
há sombras
suspiros
árvores e rosas.
Dentro da janela,
Só os meus olhos
Olhando outros olhos encobertos.
... ...

O silêncio pesa.

Isabel Meyrelles
In ‘Palavras Noturnas e Outros Poemas’

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Palavras na Penumbra (7)


Há um silêncio leve sobre as ruas.
Esconde-se em sua tênue vaidade.
Ninguém o escuta. Vai pela cidade
compondo um vento de palavras nuas.

Foge do tempo, foge dessa urgência
de dizer tanto, e tudo, e não ser nada,
e encolhe-se no oco de uma ausência,
como uma ave oculta a face alada.

Há um silêncio vivo como a pele,
que pulsa sob um têxtil desatino,
disposto a seduzir o que o impele

ao devaneio. E o impulso vence-o
e abre uma outra face em seu destino:
pois dentro do silêncio há outro silêncio


Renato Tapado
(Porto Alegre 1962, escritor gaúcho, radicado em Florianópolis desde 1974.)

Só Agora



Só agora é que compreendo haver inventado
tantas maneiras de não ser,
ou de ser, dividido,
disperso.
Ah, vida simplesmente pensada
e não apenas vivida, ou se sonhando entre mil fogos,
e por isso despida
de seu dom de unidade ou de sua própria essência!
Colado à sombra das coisas, viajo desesperadamente,
dividido, disperso.
Onde estou, não sou.
Nunca sou totalmente.
E é um ficar, sem deter-me, e um partir, sem levar-me.


Emílio Moura
In: Itinerário Poético
Entre o Real e a Fabula

Gênese


Há sempre uma hora,
uma hora densa,
uma hora inesperada,
em que a paisagem mais inocente
tem o fulgor de um fiat.
O tempo sonha que é espaço,
o espaço sonha que é tempo,
a realidade se compenetra de sua irrealidade.
O homem repensa o mundo
O mundo se recompõe em sua nostalgia de Deus.


Emílio Moura
In: Itinerário Poético
Entre o Real e a Fabula