A alma é um cenário.
Por vezes, ela é como uma manhã brilhante e fresca,
inundada de alegria.
Por vezes ela é como um pôr do sol...
triste e nostálgico.

-Rubem Alves-

Seja bem-vindo. Hoje é
Deixe seu comentário, será muito bem-vindo, os poetas agradecem.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

PAISAGEM PARA O SONÂMBULO


VI


Ando por onde andou meu pensamento,
sigo-o em mim mesmo e além de mim me alongo;
o pensamento se reinventa e lento
salta as muralhas das pupilas longas.

Um dedo branco, um dedo sonolento,
desenha ovelhas cada vez mais brancas.
-Quem fecha os olhos do silêncio? (É o vento ?)
Quem abre rosas nos jardins em branco?

Há um anjo de marfim no esquecimento,
tem gestos de luar, mãos cor de rosa;
nasceu para ser a rosa vermelha,

daí guardar o mistério das rosas.
Ando por onde andou meu pensamento,
ainda a contar e a recontar ovelhas.

Colombo de Sousa
in Estágio

A BIBLIOTECA NO TEMPO


John Rylands Library, Manchester, England

Percorro as alas da biblioteca municipal e me vem à memória uma outra biblioteca, longínqua, a da minha iniciação literária. Revive , como por encanto, o adolescente que passava horas descobrindo um mundo de outros ventos.

Surgem nomes como Hoffman, Pirandello, Katherine Mansfield, e mais, muito mais, todos reunidos no “Maravilhas do conto universal”. E os primorosos fascículos, submetidos a posterior encadernação, do “Gênios da Pintura”: Bruegel, Van Gog, Fra Angélico... E, em vinil , a coleção dos compositores clássicos. Imagens de um sonho distante e ainda tão atual, a busca pelo espírito na sensibilidade e na arte.


Boston Athenæum, Boston, MA, USA

Que fascínio a biblioteca causava e ainda hoje me causa. Que alimento torna-se a leitura para os mais sensíveis, os introvertidos. “Você que está triste e longe dos seus, leia, sempre que puder, um belo provérbio, uma poesia” dizia Hermann Hesse.

A literatura e a arte, em geral, sempre foram uma salvaguarda, um tipo de contraforte para a sustentação de meu edifício psicológico. Vozes que sempre trouxeram companhia para minha introspecção. Os livros foram, em minha infância e adolescência, uma espécie de forno onde eu me aquecia, útero a formar, lentamente, o irregular embrião de meu espírito.


Wren Library, Trinity College, Cambridge, England

As bibliotecas estão sendo digitalizadas e num futuro não muito distante livros serão apenas peças empoeiradas, esquecidas aos museus. Teremos toda sabedoria dos tempos, toda arte, ao alcance de nossos dedos,

Melhor, pior? Diferente, talvez. O universo on line veio para ficar, para facilitar nossas vidas. Porém, nada vai apagar a importância do ofício dos copistas que preservaram toda luminosidade cultural do passado, ‘imprimindo’ livros com as próprias mãos. Nada vai desfazer a curiosidade que sentimos por uma biblioteca como a de Alexandria, pelos papiros, e pela própria invenção da imprensa.


Queen’s College Library Oxford

Das brumas de meu tempo, saltam páginas e mais páginas, tomos antigos ‘na roupagem que seus séculos usavam’, como disse a poeta Emily Dickinson. A biblioteca de minha adolescência foi meu tesouro da juventude, meu mundo das mil e uma noites. Aqueles silêncios na descoberta de universos afins selaram meus anos de formação intelectual


Plantin-Moretus, Antwerp, Belgium

Naquele contato com os livros eu criava tempos mais sutis, protegia minha alma de mim mesmo, do meu mundo adverso, de minha barbárie.

“ Um prazer, um prazer em mofo
É encontrar um livro antigo
em vestes que seu século usava...”
( Em uma biblioteca – Emily Dickinson , em livre tradução)


(Fernando Campanella)

EÓLIA



Às vezes, quando estou muito alegre, escancaro
Plenamente a alma ao Sol, às Emoções, à Rima.
E os sonhos nela, então, vêem se aninhar num claro
E festo revoar de aves pela vindima.

Entram fazendo um ruído estranhamente raro
De plumas a ruflar pizzicatos de prima,
Piano, dolce ... crescendo... após forte, e reparo
N’harpa eólia, afina, que vibra lá por cima!

Um encanto! Um delírio! ... E que doce algazarra
De arrulhos e de arrufos e de espanejamentos
A dos sonhos ideais flavos pombos torcazes!

Ah! mas não mais escuto essa orquestra bizarra:
Alucina-me e vejo, em meus deslumbramentos,
Viva Aquela que dorme à sombra dos lilases ...


Euclides Bandeira
in Velhas Páginas-1.903-

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Depois de ler a Ode I de Horácio



Nem tudo, sábio Horácio, o que aspiravas
E a Mecenas pedias, é o que aspiro.
A mim basta-me um plácido retiro,
Entre árvores, ao pé da água corrente,
Ouvindo a voz das musas que invocavas.
Com isso apenas viverei contente.

Longe da turba inquieta que aborreço,
Nem teria ambições, nem cuidaria
De haver glórias da terra. Na poesia
É o grande prêmio dela o vago sonho,
Com que eu, vivendo embora, a vida esqueço
E num mundo melhor viver suponho.

Tão alto não irei no imenso espaço
Que toque os astros como tu, amigo.
Mas sei que astros e céus tenho comigo
Enquanto com estes sonhos bons me iludo;
E como as aves cantam, versos faço.
Isso - que vale o mais? - vale-me tudo.


Mário de Alencar
in:Versos, 1909
(1872-1925)

A INDIFERENÇA


(Indifference by Viktor and Natalia Kovalevski)


Ficar a tudo indiferente,
Pensar que, nunca inteligíveis,
Incertas são, e discutíveis,
Todas as coisas, igualmente;

A ser nenhum sentir apego;
Nada ter, nada esperar,
Sem que este humor, este sossego,
Sucesso algum possa alterar;

Nem na razão, nem nos sentidos
Ter fé jamais, mas por estudo
Em duvidar, sempre, de tudo:
- Falas, sorrisos ou gemidos;

Não ter o mínimo conceito
Seja do bem, seja do mal;
Fazer, com ânimo perfeito,
Renúncia eterna e universal;

Nem ver no túmulo um asilo,
Mas bem iguais Morte e Existência
Considerar - sem preferência,
Pouco importando, isto ou aquilo

- Eis como expõe o seu programa
Um grande espírito ... Mas quem,
Representando o humano drama,
Conseguirá tanto desdém?

Indiferença, o nosso nível
Teu reino olímpico ultrapassa,
Divino dom, suprema graça,
Chamo-te, em vão ... És impossível!

Esse que sabe com tal plano
Levar na terra os dias seus,
Melhor que o déspota romano,
Deve sentir tornar-se Deus.


Afonso Celso
(1860-1938)
Minas Gerais

Mar Alto



Esta água é todas as águas,
sem porto, nome ou naufrágio.
Rendada de espuma ao vento,
sem dor nem contentamento.

Esta água — lugar nenhum —
é perdição sem loucura.
Nela se dissolvem mágoa,
memória, tempo, aventura.

Sem lei nem rei, sem fronteiras,
além de verbo e silêncio,
esta é a pátria procurada:
incêndio de tudo — nada.

Hélio Pellegrino
Minas Gerais
(1924-1988)

VALSA DO ADEUS



Tudo é partida de navio, velas
ao vento, coisas desancoradas
que se desgarram. Este copo, esta pedra
que pronuncio não são palavras, nem
versos de amor, nem o sopro
vivificante do espírito. São barcos
arrastados pelo tempo, cascas
de fruta na enxurrada, lenços
de adeus, enquanto o vapor se afasta,
e de longe ilumina essa ausência que somos.

Hélio Pelllegrino
In: Minérios Domados,

Inutilmente



Floriram os ipês ali da praça
e, quando a gente passa,
-porque o vento as derruba em profusão –
vai esmagando flores pelo chão.


Como ciclópica oficina
pulsa, ao redor, a vida citadina.
Arranha-céus fugindo para o alto
numa arquitetura funcional;
automóveis rodando sobre o asfalto
e, de fundas angústias carregada,
a multidão correndo, alucinada,
vazia de Ideal.


Babélica, apressada,
toda essa gente não repara em nada:
não vê, em cima, a loira floração,
nem vê que pisa em flores pelo chão.


Os ipês se enfloraram, mas em vão . . .
Sua mensagem clara, colorida,
-um hino de louvor ao Belo e à Vida –
fica rolando, inútil, pelo chão,
fica, inútil, rolando pelo ar,
pois os homens não sabem mais sonhar.


Graciette Salmon
In: A Vida Por Dentro

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

A vida...



Abri meus olhos ao raiar da aurora
e parti. Veio o sol e, então, segui-a,
a sombra, que eu julgava guiadora,
a minha própria sombra fugidia.

E foi subindo o sol; ao meio-dia
escondeu-se-me aos pés a sombra;
agora se volvo o olhar onde passei outrora,
vejo-a a seguir-me, a sombra que eu seguia.

A gente é o sol de um dia; sobe, avança,
passa o zênite, e vai na imensidade
apagar-se no mar, onde se lança...

E a vida é a própria sombra; meia-idade,
somos nós que a seguimos, e é a Esperança;
depois segue-nos ela: é a Saudade.

Fernando Caldeira
Portugal (1842-l894)

In A Circulatura do Quadrado (Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria É a Língua Portuguesa) - Edição Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, C.R.L., 2004 - pag 131.

Deslumbramento




Quando num labirinto andei perdido,
labirinto de sonhos e esperanças,
uma voz segredava-me ao ouvido:
- "O amor é belo enquanto o não alcanças,

Não tenhas pressa que depressa
cansas do que mais hás-de ter apetecido".
Receoso de colher desesperanças,
não tocava no fruto proibido.

Porém quando a distância se faz perto,
tornando certo quanto fora incerto,
e a cingir-te em meus braços me disponho,

quando da realidade me avizinho
e do sonho me afasto eu adivinho
que a realidade excede o próprio sonho!

Noel de Arriaga
Portugal-1918

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Luar



É o luar que me inventa
nesta varanda de prata.
Faz bem pouco, havia apenas
silêncio, e uma alma escassa.

É do luar este conto
solto na espuma do ar,
e que me conta, me sonha
contra ruínas.É o luar

em seu tear me tecendo,
soprando-me uma alma vasta
e as velas desta varanda
em águas iluminadas

por sua lira que respira
este conto - enquanto tarda,
na sombra, a princesa fria
que há de vir me beijar.

Rui Espinheira Filho

PERCEPÇÃO



O mundo te rodeia de cercas e desejos,
te comprime no refúgio de teu quarto
e te restringe à lâmina das coisas
no seu fino acontecer.

Todavia, o amor é para toda a vida,
é para sempre e um dia e mais talvez:
o amor te prende às palavras e te liberta
na invenção de alguns códigos e silêncios.
É possível que a tua cota de realidade
seja agora por demais excessiva
e apenas te deixe perceber os possíveis
de outros planos e subversões.

Vê como as cortinas disfarçam o teu olhar,
como as ruas se enrodilham aos teus pés
e como algumas veredas vão desaparecendo
nos teus desertos e viagens.
Que seria de ti sem os teus espelhos?
sem a jarra-de-flores que guarnece
o espaço dessa mesa de pernas para o ar,
com velhas catacreses da gaveta?

É para ti que as águas vão polindo
os sentidos desse único sentido
ainda vulnerável, mas perdido na cena,
no espetáculo obsceno de ti mesmo.


Gilberto Mendonça Teles

ANULAÇÃO



Ocupar o espaço
contido na sombra,
ser o pó do espesso,
o vão da penumbra,

o dó sem começo,
o nó sem vislumbre,
o invisível traço
do não-ser: escombro.

Ser zero, ou nem isso:
letra morta, timbre
do vazio no osso.

Ser aquém do nome
— o só do soluço
de coisa nenhuma.

Gilberto Mendonça Teles
1.931- Goiás- Brasil

BLIND BORGES




La vasta y vaga y necesaria muerte.
Jorge Luis Borges: Blind Pew



A vasta e vaga morte, esse outro sonho,
não é só outro sonho: é a mais remota
ilha de ouro a que nossa derrota
nos leva, inexorável, sonho a sonho.

Latidos pelos cães, sonho após sonho,
sonhamos. Esta é a vida, a vela, a rota
do homem: sonhar. E em áurea praia ignota
sonha o que sonha o sonhador, que é sonho.

Isto é o que pulsa em nós: o ansiado ouro
— distante e aqui, no coração —, tesouro
cuja procura tece a nossa sorte;

rumo que a alma singra e sagra em ouro
até chegar enfim a esse tesouro
incorruptível que nos sonha a morte.


Ruy Espinheira Filho

'De Profundis'



…E silenciosamente
morri, de morte humilde, humildemente,
numa longínqua torre,
num triste anoitecer…
……………………………………………..
Não é quando se acaba que se morre;
é quando acaba o gosto de viver.

Branca de Gonta Colaço
(Ultimas Canções)
(1.880-1.945)
Portugal

Sic transit…



Sol posto… Hora de magoa e de saudade.
Aza negra a encobrir da terra a fronte.
Na penumbra que desce ao mar e ao monte,
Ha presságios de ignota adversidade!

Escuro e lento, o fumo da cidade,
por sobre a faixa rubra do horizonte,
como estendendo lutuosa ponte
Cruza de norte a sul a imensidade…

Tudo na sombra se confunde e irmana!...
Assim no mundo acaba a vida humana
do humano desconcerto entre os baldões…

Assim ao cabo a treva tudo enlaça,
e como fumo efêmero que passa
vão passando no Tempo as gerações…

Branca de Gonta Colaço
(Hora da sesta)
(1.880-1.945)
Portugal



“Há dias em que a melancolia chove dentro de nós como num pátio interior, atapetado de jornais velhos. Não se ouve, não se sente - mas rebrilha na sujidade densa. Eu estava num desses dias quando afastei a cortina e olhei pela janela a tarde que se ofuscara de repente, com pressa de se evadir da atmosfera enfastiada e, sobretudo, de um cenário sem alegria…”. (…)

“Mas em fechando a cortina tudo isso desaparecia: eis-me de novo isolado no gabinete fofo, de paredes que, a partir de certo momento, me davam a sensação irrespirável de uma espessura acolchoada onde tudo ficava retido: a fadiga, o silêncio…

(…)

[Fernando Namora - Retalhos da Vida de Um Médico - Segunda Série - excertos, pág 305; 14ª Edição. Livraria Bertrand]

Que ninguém me diga nada...




Que ninguém me diga nada.
Que ninguém venha abrir a minha mágoa,
esta dor sem nome
que eu desconheço donde vem
e o que diz.
É mágoa!
Talvez seja um começo de amor.
Talvez, de novo, a dor e a euforia de ter vindo ao mundo.
Pode ser tudo isso, ou nada disso.
Mas não afirmo.
As palavras viriam revelar-me tudo,
E eu prefiro esta angústia de não saber de quê.

Fernando Namora

Tudo na Vida




Tudo na vida está em esquecer o dia que passa.
Não importa que hoje seja qualquer coisa triste,
um cedro, areias, raízes,
ou asa de anjo caída num paul.
O navio que passou além da barra
já não lembra a barra.
Tu o olhas nas estranhas águas que ele há-de sulcar
e nas estranhas gentes que o esperam em estranhos portos.
Hoje corre-te um rio dos olhos
e dos olhos arrancas limos e morcegos.
Ah, mas a tua vitória está em saber que não é hoje o fim
e que há certezas, firmes e belas,
que nem os olhos vesgos
podem negar.
Hoje é o dia de amanhã.


Fernando Namora
(l.919-1.989)
Portugal

Ausência




Recresce, arpoante e funda, a saudade cruel.
Corri ela foi meu sol, partiu minha risada!
Cada dia que passa é uma gota de fel
que se me infiltra na alma e a põe envenenada.

Mais larga a ausência, mais a lembrança dourada
resplandece, espertando emoções em tropel:
o riso, o gesto, a voz; boca a boca soldada,
os seus beijos febris que eram de fogo e mel...

Claro perfil de luz, louro encanto irradiando
o revérbero astral de flavescente véu
que dourava o meu sonho e o verso decadente.

Onde estás? interrogo. E a mágoa cresce quando
sinto tudo em silêncio em torno. .. O próprio céu
misterioso e azul, como os olhos da Ausente...


Euclides Bandeira
(1877-1948)
Paraná

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

ÁRIA PARA FLAUTA



Entre o luar e a praia
tua medida exata


e em meu céu desmaia
outra ilusão de prata;


sempre o amor me atraia
no azul da serenata:


-serás a antiga praia,
serei o luar de prata.


Colombo de Sousa
In: Estágio 1964

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

O CASTELO



O teu castelo é como um castelo de cartas
Como tantos que ao vento aluíram no mar.
Não lhe toques. Nada ficou por acabar.
Tal como o ergueste hás de deixa-lo quando partas.

Mesmo um friso de espuma é o princípio da morte
Que alonga pela areia o braço da maré.
Muros houve que mal estiveram de pé,
Ainda que parecendo os de uma praça forte.

A areia é eterna, o mar é eterno, eterno é o vento,
Mas eterno será também o esforço vão
De erguer castelos que bem pouco durarão
Nesta praia que só promete esquecimento.


Ribeiro Couto
In: Longe



Que temos neste mundo, meu Deus, afora o amor e o sofrimento?
Temos os ventos, as areias, as árvores, o mar,
e os caminhos na montanha e na planície,
e as estrelas na noite, e os pássaros, e as manhãs puras,
e as coisas humildes e gloriosas que o homem talhou com mão trêmula,
os barcos no porto manso, ao crepúsculo,
a talha de água num recanto escuro de cozinha,
os longos perfis de torre,
a massa antiga, sob o sol, dos mosteiros em silêncio . . .

Que temos neste mundo, meu Deus, afora o amor e o sofrimento?
Todos os seres, e as coisas, e as realidades
que são fonte de amor e sofrimento,
que são fonte da sede de beleza
ou da profunda melancolia . . .


Que temos neste mundo, meu Deus, afora o amor e o sofrimento?
O Mar para perpetuar a ânsia de virgindade e infinitude,
As manhãs puras, as árvores, os pássaros, as areias,
para acordarem a saudade da inocência,
as estrelas na noite para porem esplendor e inquietação no espírito,
os caminhos na montanha e na planície,
para manterem vivo este ímpeto de fuga,
e as coisas humildes ou gloriosas que o homem modelou com mão trêmula,
para lembrarem que a vida foi sempre esta mesma vida.

Que temos neste mundo, meu Deus, senão amor e sofrimento?



Tasso Da Silveira
In: Poemas De Antes

Conheço a residência da dor




Conheço a residência da dor.
É um lugar afastado,
Sem vizinhos, sem conversa, quase sem lágrimas,
Com umas imensas vigílias diante do céu.

A dor não tem nome,
Não se chama, não atende.
Ela mesma é solidão:
Nada mostra, nada pede, não precisa.
Vem quando quer.

O rosto da dor está voltado sobre um espelho,
Mas não é rosto de corpo,
Nem o seu espelho é do mundo.

Conheço pessoalmente a dor.
A sua residência, longe,
Em caminhos inesperados.

Às vezes sento-me à sua porta, na sombra das suas árvores.
E ouço dizer:
“Quem visse, como vês, a dor, já não sofria”.
E olho para ela, imensamente.
Conheço há muito tempo a dor.
Conheço-a de perto.
Pessoalmente.


Cecília Meireles

domingo, 18 de janeiro de 2009

Love lies bleeding


(Amarantus caudatus-pop. Love lies bleeding)


"You call it, "Love lies bleeding,"--so you may,
Though the red Flower, not prostrate, only droops,
As we have seen it here from day to day,
From month to month, life passing not away:
A flower how rich in sadness! Even thus stoops,
(Sentient by Grecian sculpture's marvellous power)
Thus leans, with hanging brow and body bent
Earthward in uncomplaining languishment
The dying Gladiator. So, sad Flower!
('Tis Fancy guides me willing to be led,
Though by a slender thread,)
So drooped Adonis bathed in sanguine dew
Of his death-wound, when he from innocent air
The gentlest breath of resignation drew;
While Venus in a passion of despair
Rent, weeping over him, her golden hair
Spangled with drops of that celestial shower.
She suffered, as Immortals sometimes do;
But pangs more lasting far, 'that' Lover knew
Who first, weighed down by scorn, in some lone bower
Did press this semblance of unpitied smart
Into the service of his constant heart,
His own dejection, downcast Flower! could share
With thine, and gave the mournful name which thou wilt ever bear."


William Wordsworth

SAGA DE ASAS


(Foto by Fernando Campanella)

Novembro, estação das chuvas, e as garças já retornaram, para nidificação, àquelas árvores junto ao velho rio Sapucaí. Centenas delas, diferentes tamanhos, cores, e espécies ( branca-grande, vaqueira ou boiadeira, socó-dorminhoco ou garça-cinzenta...).

Algumas, como as brancas grandes, exibindo suas egretas, penachos especiais no dorso usados para o ritual de corte.

É a época da reprodução. No ninhal já se vêem as estruturas de gravetos e galhos secos, forradas de capim. Logo as fêmeas postarão os ovos verde-azulados, e os pais os chocarão e alimentarão os filhotes que vingarem.

Alvoroçadas com minha presença em seus domínios, emitem sons roucos, entrecortados, e brandem as poderosas asas quando de mim se afastam. Porém, jamais me atacam.

Quando pela primeira vez fotografei a colônia dessas aves , em meados de dezembro do ano anterior , os filhotes já estavam em seus ninhos, recém-nascidos, de uma beleza grotesca, plumas escassas , o bico enorme, desproporcional à estatura do corpo. Cerca de um mês mais tarde, em minha segunda visita, já eram adolescentes, com plumagem mais definida, em pleno ensaio para a rara beleza que portariam quando adultas.

Em Abril deste ano , por ali passando, não mais as vi. No outono, após as águas de março, baixando o nível das águas do Sapucaí, as várzeas da região do ninhal secam , dificultando para as garças encontrarem suas presas - plâncton, pequenos peixes e anfíbios - naquelas lagoas marginais. Em sua natureza migrante, as brancas grandes voam, então, para regiões de águas fartas, abundantes, como nas proximidades do imenso lago de Furnas.

As exóticas vaqueiras, insetívoras, rumam aos pastos em busca dos insetos do gado, abrigando-se em outros pousios. E do milagre dos instintivos rituais da vida, daquele clamor de sons e asas, restarão, após partirem, ali junto ao rio, tão somente algumas penas, fezes branco-acinzentadas e o silêncio dos ninhos vazios.

Agora, mais uma vez , em novembro, ali estão elas, os filhotes do ano anterior já são aves absolutas e plenas que, dando continuidade ao ciclo natural, postarão e chocarão seus ovos, revitalizando o local com o grasnar coletivo, o vôo elegante, as delicadas poses e movimentos de bailarinas.

Eu as aguardei durante longos meses para revisitá-las agora na estação das chuvas, meu coração como se atendesse a um chamado para registrar a renovação da vida em sua mais encantada alegria. Mas até quando as verei, agrupando-se, vindas algumas de longe, impulsionadas por um misterioso código biológico que lhes assegura um santuário de procriação precisamente naquele sítio?

Contemplando-as na tarde, consortes , amantes em plena, festiva cumplicidade, ciente de que logo partirão, em incansável saga de asas, para cuidar de outras conquistas, lembro-me dos versos do poeta irlandês, Yeats, referindo-se aos seus selvagens cisnes de Coole:

‘... Entre que juncos edificarão sua morada,
Junto a que lago, junto a que charco,
Deliciarão o olhar do homem quando um dia eu despertar
E descobrir que voando se foram?’



(Fernando Campanella, 22 de novembro de 2008)

'TERCEIRA ROSA DE SAROM'



É doce quanto o sonho de ser procurado
meu sonho mesmo tardo de te procurar.
É eterno como o fado de ser encontrado
sob o peso do fardo de não te encontrar.

O evangelho das rosas me traz revelado
que o mistério do amor é o único pomar
onde uma lágrima é um fruto maturado
que flui da alma da saudade de te amar.

Meu coração ainda é recâmara de amor
e tâmaras entre os racimos de ternuras
que te ofereço pelo amor além do mito.

Ô, toda rosa amada! aflito é o desamor
que não revive de saber das amarguras
que o limite da minha rosa é o infinito...


Afonso Estebanez

A TERCEIRA ROSA



Três rosas... A mestria de um amor,
com que me tornas tua companheira.
Três rosas.. A contar-me do penhor
com que teceste a vida, plena, inteira.

Com justa perfeição foste escultor
do mármore, gerado na pedreira;
e de um mosaico de pouco esplendor,
tua régua tracejou obra altaneira.

E nosso peito vibra a um só compasso,
meu porto mais seguro é teu abraço...
Agora sei, meu sonho não foi vão.

A rosa de Saron ouviu-me o pranto
e deu-me a conhecer o doce encanto,
por Ele, posto no teu coração.


Patrícia Neme

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

AN INVITE TO ETERNITY



Wilt thou go with me sweet maid
Say maiden wilt thou go with me
Through the valley-depths of shade
Of night and dark obscurity
Where the path hath lost its way
Where the sun forgets the day
Where there's nor life nor light to see
Sweet maiden wilt thou go with me

Where stones will turn to flooding streams
Where plains will rise like ocean- waves
Where life will fade like visioned dreams
And mountains darken into caves
Say maiden wilt thou go with me
Through this sad non-identity
Where parents live and are forgot
And sisters live and know us not

Say maiden wilt thou go with me
In this strange death of life-to-be
To live in death and be the same
Without this life or home or name
At once to be and not to be
That was and is not- yet to see
Things pass like shadows- and the sky
Above, below, around us lie.

The land of shadows wilt thou trace
And look nor know each other's face
The present mixed with seasons gone
And past and present all as one
Say maiden can thy life be led
To join the living with the dead
Then trace thy footsteps on with me
We're wed to one eternity

John Clare

terça-feira, 13 de janeiro de 2009



Estamos sós... Embora o ventre e o peito,
à vida oferecessem seu alento.
E fosse o fruto amado e bem aceito...
Fosse o carinho sem comedimento.

Estamos sós.. O que foi tão mal feito,
causamos, nós, tamanho rompimento?
Se nosso coração é amor-perfeito,
que abriga, acolhe, cuida... Sem lamento?

Se os filhos são a bênção do Senhor,
heranças vindas do divino amor...
Adultos... Nos contemplam com frieza?

Por quê já não mais lembram do acalanto,
que deles foi o riso e foi o pranto...
Por quê nos abandonam à tristeza?


Patrícia Neme

Dia de Chuva



Amanheceu a Chover

Na vidraça do meu quarto,
A bater, impertinente.
A chuva lembra uma queixa
Dolorosa, sem remédio!
Ninguém passa! Nesta rua
Moro eu e mora o tédio.

O vento atira com ela
De encontro a minha janela;
E ela, a chuva, batucando
Na vidraça do meu quarto,

Fica escorrendo e alagando
Esta indecisa luz fria
Que põe sintomas de um véu
Negro e solto pelo céu.

E a chuva cai, não abranda,
Insiste,bate,fustiga,
E o dia avança e vai abrindo mais
O seu curso de lentas melodias
Diluídas no corpo de existência
Através de um rosário de ilusões.

São sempre assim estes dias
Tristíssimos como a história
De uma ansiedade partida!

Chuva, névoa,desconforto,
A imagem da minha vida!


António Botto
In: Ódio e Amor

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

"Mater Dolorosa"



Quando se fez ao largo a nave escura,
na praia essa mulher ficou chorando,
no doloroso aspecto figurando
a lacrimosa estátua da amargura.

Dos céus a curva era tranqüila e pura:
das gementes alcíones o bando
via-se ao longe, em círculos, voando
dos mares sobre a cérula planura.

Nas ondas se atufara o sol radioso,
e a lua sucedera, astro mavioso,
de alvor banhando os alcantis das fragas...

E aquela pobre mãe, não dando conta
que o sol morrera, e que o luar desponta,
a vista embebe na amplidão das vagas...

Gonçalves Crespo

domingo, 11 de janeiro de 2009

O SENTIDO SECRETO DA VIDA



Há um sentido profundo
Na superficialidade das coisas,
Uma ordem inalterável
No caos aparente dos mundos.

Vibra um trabalho silencioso e incessante
Dentro da imobilidade das plantas:
No crescer das raízes,
No desabrochar das flores,
No sazonar das frutas.

Há um aperfeiçoamento invisível
Dentro do silêncio de nosso Eu:
Nos sentimentos que florescem,
Nas idéias que voam,
Nas mágoas que sangram.

Uma folha morta
Não cai inutilmente.
A lágrima não rola em vão.
Uma invisível mão misericordiosa
Suaviza a queda da folha,
Enxuga o pranto da face.

Helena Kolody
in Correnteza

SOMBRA E NÉVOA




Cai o crepúsculo. Chove.
Sobre a névoa ... A sombra desce ...
Como a tarde me entristece!
Como a chuva me comove!

Cai a tarde muda a calma ...
Cai a chuva fina e fria ...
Anda no ar a nostalgia,
Que é névoa e sombra em minh’alma.

Há não sei que afinidade
Entre mim e a natureza:
Cai a tarde ... Que tristeza!
Cai a chuva ... Que saudade!

Da Costa e Silva
in Poesias Completas

Saudade





Saudade é uma dor suave e forte!
Cicatriz a sangrar dentro da gente. . .
E a vida em flor com sensação de morte;
Amanhecer com sombras de poente.

Saudade! Insônia de quem não se importe
De sonhar envolvido em sono quente.
Nuvem de sol, calor que desconforte
A alma gelada, tiritante e ardente.

Saudade é a expressão indefinida. . .
Verso incompleto de canção dorida...
Minuto que se fez eternidade!

Recado extraviado no caminho. . .
A paz da ave que perdeu seu ninho...
Melodia de pranto é o que é Saudade.

Bernardina Vilar
In ‘Bom dia Saudade’ (1995)

O POLVO



Polvo da eterna dor, embalde apertas
em teus forte tentáculos sedentos
a humana essência, contra a qual despertas
em teu furor os vários elementos.

Por mais que o gozo em rudes sofrimentos,
por mais que em cardos os rosais convertas,
hão de ao Homem jorrar novos alentos
da consciência as termas sempre abertas.

Assim ao mar que canta, estua e brama,
há séculos o sol, polvo de chama,
em cada raio suga-lhe uma gota.

Mas a seus pés batidos noite e dia,
os continentes bradam à porfia:
“ – Rios ao mar!” e o mar nunca se esgota.


Augusto de Lima
in Coletânea de Poesias

CÂNTICO




Colho o inefável entre as mãos do vento
como quem colhe rosa em pensamento;

cresço no Tempo e o colorido lento
do vento apaga minha realidade;

pássaro livre nos jardins cifrados,
vôo em violino, em minhas mãos me invento.

Colombo de Souza
in 'Estágio'

'Alegoria do Dia e da Noite'



São dois cavalos de variado porte,
Cavalgando-os por sonhos, pesadelos,
Descubro o colorido de seus pêlos,
Atento aos pontos cardeais da morte.

Talvez ao branco, ao preto me reporte,
Levam-me (sem ouvir os meus apelos)
Aonde não sei. Quem poderá detê-los?
Assim talvez à ilha do sonho aporte.

Soam os dois quais músicas em dueto
E, ao vê-los, minhas lágrimas estanco,
Atos do herói que antes não fui – cometo,

Poemas de amor do coração arranco.
– Sou noite e morte no cavalo preto,
Sou dia e vida no cavalo branco.


Colombo de Souza
in 'Antologia Poética'
(1.973)
Parana

.

'Mar por la tarde'



Altos muros del agua, torres altas,
aguas de pronto negras contra nada,
impenetrables, verdes, grises aguas,
aguas de pronto blancas, deslumbradas.

Aguas como el principio de las aguas,
como el principio mismo antes del agua,
las aguas inundadas por el agua,
aniquilando lo que finge el agua.

El resonante tigre de las aguas,
las uñas resonantes de cien tigres,
las cien manos del agua, los cien tigres
con una sola mano contra nada.

Desnudo mar, sediento mar de mares,
hondo de estrellas si de espumas alto,
prófugo blanco de prisión marina
que en estelares límites revienta,

qué memorias, qué rocas, yelos, islas,
informe confusión de aguas y nada,
qué mares, encendidos prisioneros,
dentro de ti, bajo tu pecho, cantan?

Qué violencias recónditas, qué labios,
conmueven a tu piel de verdes llamas?,
qué desoladas aguas, costas solas,
qué mares invisibles, mar, alías?,

dónde principias, mar, dónde te viertes?,
dónde principias, tiempo, vida mía,
ejército de humo y de mentira,
adónde vas, latido, carne, sueño?

¿Dónde te viertes, avidez de nada?
No soy la piedra que se precipita,
soy su caída, y más, soy el abismo,
el círculo de sombra en que se ahonda.

Tiempo que se congela, mar y témpano,
vampiro de la luna ?o se despeña:
madre furiosa, inmensa res hendida,
mar que te comes vivas las entrañas.

Octavio Paz

COR DO MUNDO




Verde é a cor da esperança, tanto o dizes.
E por que não é verde a cor do mundo?
Talvez haja mais verde nos teus olhos
Com que vês verde o mundo ou parte dele
Que esperança no fundo de tua alma.

A cor do mundo é, antes, cinza ou turva.
Hás de ver esperança aqui e algures
Não por virtude dos teus olhos verdes
Mas pelo verde essencial das coisas.

Escura é a cor da noite, claro o dia.
Por que não ser o mundo preto-e-branco
Ou, antes, claro-e-turvo? Isto é certo:
Talvez haja mais cor em teu desejo
Do que na cor essencial do mundo!

Loyola Rodrigues
In ‘Poesia Reunida’

sábado, 10 de janeiro de 2009



Já um pouco de vento se demora;
Já sua força vale a de uma mão
Nestes papéis que trago para fora,
Que o campo dá certeza e solidão.

O calor fez a casca mais delgada,
Agora colho a tarde: a vida não.
Sou como a macieira carregada:
De palavras a mais cobri o chão.

Árvores há no outono que conhecem
O toque e ardor das folhas de amanhã
E esperando-as, altas, adormecem.
Com espaço e vento nunca a vida é vã.

Eu volto à mão do outono em meus papéis.
Penso e, indiscreto, o ar remove
Estas imagens cruéis
Que a minha vida comove.

Vitorino Nemésio

Roteiro



Parar. Parar não paro.
Esquecer. Esquecer não esqueço.
Se caráter custa caro
pago o preço.

Pago embora seja raro.
Mas homem não tem avesso
e o peso da pedra eu comparo
à força do arremesso.

Um rio, só se for claro.
Correr, sim, mas sem tropeço.
Mas se tropeçar não paro
- não paro nem mereço.

E que ninguém me dê amparo
nem me pergunte se padeço.
Não sou nem serei avaro
- se caráter custa caro
pago o preço.


Sidónio Muralha

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

'ÁRIA PARA VIOLINO'




Para nadar no silêncio
ergo as mãos extraviadas;

são estrelas acordadas,
ou meu eco em seu silêncio.

Escorre pelo que sinto
meu perfil escrito e ouvido

e em som e cor divido
entre mim e o que não sinto.


Colombo de Souza
in: Estágio

FINIS''



Talvez não seja o meu amor extinto.
Quem sabe? Penso e fico menos triste.
E algum prazer só de pensar eu sinto...
Só de pensar que o meu amor existe.

- E existe, disse ao coração, - existe!

Mas, me enganei, fora ilusão fugace,
Quanta perfídia ela guardava em si.
E se calou, ao menos se falasse...
Se me falasse eu via que menti.

- Menti, diria ao coração, - menti!

Porém, agora, é tudo descoberto...
Se perguntar-me o desespero seu:
- Que é desse amor, que eu já contava certo?...
- Que é desse amor? Existe ou já morreu?

- Morreu! Direi ao coração, - morreu!


Heitor Stockler de França

'ALEGORIA DA BAILARINA NOTURNA'



Ei-la esculpida em seus mistérios, nua
no camarim azul da imensidade;
muros sem fim encarceram a sua
virgem alma no tempo sem idade.

Ei-la a bailar - a música insinua
a transparência do bailado que há de
vestir de espelho seu perfil de lua,
no encantado mural da Eternidade.

Quem não amar a Bela Adormecida
não cantará com ela o hino da vida,
rosas de amor plantando pelo mundo.

Seus gestos musicais nadam contornos
de almas, sonham jardins, descem ao fundo
do seu cenário de violinos mornos.


Colombo de Souza



O céu está cinzento com chuva que não cairá,
Nos carreiros de argila há poças de fantasmagórica neblina.
Empestada com imemorial tristeza,
A terra cinzenta drena a coragem de existir.
Pobres criaturas dos trópicos, encurraladas em terras do norte,
Eu também desejo o sol e sou escravo.
O meu coração está convosco,
Compreendo o leão que se volta vivo na sua sepultura.


Israel Zangwill
(1864-1926)
Tradução: Cecília Meireles