quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
A INDIFERENÇA
(Indifference by Viktor and Natalia Kovalevski)
Ficar a tudo indiferente,
Pensar que, nunca inteligíveis,
Incertas são, e discutíveis,
Todas as coisas, igualmente;
A ser nenhum sentir apego;
Nada ter, nada esperar,
Sem que este humor, este sossego,
Sucesso algum possa alterar;
Nem na razão, nem nos sentidos
Ter fé jamais, mas por estudo
Em duvidar, sempre, de tudo:
- Falas, sorrisos ou gemidos;
Não ter o mínimo conceito
Seja do bem, seja do mal;
Fazer, com ânimo perfeito,
Renúncia eterna e universal;
Nem ver no túmulo um asilo,
Mas bem iguais Morte e Existência
Considerar - sem preferência,
Pouco importando, isto ou aquilo
- Eis como expõe o seu programa
Um grande espírito ... Mas quem,
Representando o humano drama,
Conseguirá tanto desdém?
Indiferença, o nosso nível
Teu reino olímpico ultrapassa,
Divino dom, suprema graça,
Chamo-te, em vão ... És impossível!
Esse que sabe com tal plano
Levar na terra os dias seus,
Melhor que o déspota romano,
Deve sentir tornar-se Deus.
Afonso Celso
(1860-1938)
Minas Gerais
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