quinta-feira, 29 de janeiro de 2009
A BIBLIOTECA NO TEMPO
John Rylands Library, Manchester, England
Percorro as alas da biblioteca municipal e me vem à memória uma outra biblioteca, longínqua, a da minha iniciação literária. Revive , como por encanto, o adolescente que passava horas descobrindo um mundo de outros ventos.
Surgem nomes como Hoffman, Pirandello, Katherine Mansfield, e mais, muito mais, todos reunidos no “Maravilhas do conto universal”. E os primorosos fascículos, submetidos a posterior encadernação, do “Gênios da Pintura”: Bruegel, Van Gog, Fra Angélico... E, em vinil , a coleção dos compositores clássicos. Imagens de um sonho distante e ainda tão atual, a busca pelo espírito na sensibilidade e na arte.
Boston Athenæum, Boston, MA, USA
Que fascínio a biblioteca causava e ainda hoje me causa. Que alimento torna-se a leitura para os mais sensíveis, os introvertidos. “Você que está triste e longe dos seus, leia, sempre que puder, um belo provérbio, uma poesia” dizia Hermann Hesse.
A literatura e a arte, em geral, sempre foram uma salvaguarda, um tipo de contraforte para a sustentação de meu edifício psicológico. Vozes que sempre trouxeram companhia para minha introspecção. Os livros foram, em minha infância e adolescência, uma espécie de forno onde eu me aquecia, útero a formar, lentamente, o irregular embrião de meu espírito.
Wren Library, Trinity College, Cambridge, England
As bibliotecas estão sendo digitalizadas e num futuro não muito distante livros serão apenas peças empoeiradas, esquecidas aos museus. Teremos toda sabedoria dos tempos, toda arte, ao alcance de nossos dedos,
Melhor, pior? Diferente, talvez. O universo on line veio para ficar, para facilitar nossas vidas. Porém, nada vai apagar a importância do ofício dos copistas que preservaram toda luminosidade cultural do passado, ‘imprimindo’ livros com as próprias mãos. Nada vai desfazer a curiosidade que sentimos por uma biblioteca como a de Alexandria, pelos papiros, e pela própria invenção da imprensa.
Queen’s College Library Oxford
Das brumas de meu tempo, saltam páginas e mais páginas, tomos antigos ‘na roupagem que seus séculos usavam’, como disse a poeta Emily Dickinson. A biblioteca de minha adolescência foi meu tesouro da juventude, meu mundo das mil e uma noites. Aqueles silêncios na descoberta de universos afins selaram meus anos de formação intelectual
Plantin-Moretus, Antwerp, Belgium
Naquele contato com os livros eu criava tempos mais sutis, protegia minha alma de mim mesmo, do meu mundo adverso, de minha barbárie.
“ Um prazer, um prazer em mofo
É encontrar um livro antigo
em vestes que seu século usava...”
( Em uma biblioteca – Emily Dickinson , em livre tradução)
(Fernando Campanella)
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