domingo, 24 de junho de 2007
VIDA E MORTE
Senhor, eis aqui minha biografia, meu livro de vida...
É documentário,
e confesso que e muito difícil escrever a vida como vos quereis...
E difícil, Senhor, escrevê-la quando não se e escritor,
quando nunca se aprendeu tal oficio.
Mas a vida não se aprende:
Toda vida é um romance novo, único no gênero, sempre obra
de primeira mão.
É difícil Senhor, não poder copiá-lo, pois vós não aceitais plágios
É difícil Senhor, não poder corrigi-la.
Dela não podemos arrancar páginas mal escritas, ou apagar alguma coisa.
O que escrevi ficará sempre escrito.
O que eu posso é manifestar meu arrependimento,
escrevendo páginas melhores.
É difícil, Senhor, seguir este ritmo da vida que me leva inexoravelmente
adiante...
Mas obrigado, Senhor, por retratar-me das páginas passadas
em cada nova página que escrevo.
É difícil, Senhor, ir virando as folhas, dia por dia,
na angústia de não saber o dia da entrega do manuscrito...
Mas não seria, Senhor, mais angustioso ainda saber o dia e a hora?
É difícil Senhor, não sabermos quantas folhas em branco
nos restam,
para desenvolver satisfatoriamente o tema...
Um dia qualquer vós me tomareis a caneta das mãos
e escrevereis debaixo do meu último rabisco:
Fim.
É difícil Senhor, não poder reclamar, então:
Ainda não terminei...
Porque há sinfonias inacabadas que são obras primas
E há existências longevas que nunca acertaram o tema.
Tive pena do tempo perdido...
Mas, Senhor,não tivestes minha vida,a cada instante em vossas mãos?
Rabindranath Tagore
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