A alma é um cenário.
Por vezes, ela é como uma manhã brilhante e fresca,
inundada de alegria.
Por vezes ela é como um pôr do sol...
triste e nostálgico.

-Rubem Alves-

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quinta-feira, 21 de junho de 2007

SEQÜÊNCIA



Os bois mugem para a grande
solidão que os agasalha.
(Os homens acham na paz
do campo a paz que apunhala.)

Os cães uivam para a lua
um uivo fino e ofegante.
(Os homens padecem a lua
e a dor em canto se expande.)

Os gatos choram na noite
como em fundo sofrimento.
(os homens padecem a noite
uma outra noite antevendo.)

As traças devoram a vida,
papirófagos sem pressa.
(os homens se dão aos livros
e a vida, como lhes pesa!)

Os ratos pelos armários
deixam apenas fragmentos.
(Os homens se dilaceram,
as próprias cinzas temendo.)

E a vida só se asserena,
se atenua, se aquieta,
quando num rosto cansado
sombra, apenas, se dispersa.

Alphonsus de Guimaraes Filho
in O Tecelão do Assombro

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