quarta-feira, 13 de junho de 2007
"Onze"
Mas a pequena areia caminha com seu passo invisível;
do cristal quebrado, da montanha submersa,
a areia sobe e forma paisagens, campos, países ...
Mas o esquema do peixe e da concha modela seus desenhos
e desenrola-se a anêmona,
e o fundo do mar imita o inalcançável firmamento.
Mas a flor está subindo, próxima,
cheia de sutis arabescos.
Mas a água está palpitando entre o pólo e o canal,
viva e sem nome e sem hora.
Mas o sonho está sendo alargado como as imensas redes,
ao vento do mundo, à espuma do tempo,
e todas as metamorfoses caídas aí se agitam,
resvalando entre as malhas muito exíguas
que separam o que é vida do que é morte.
E a mão que dorme está sendo lavrada pela noite,
pela noite que conhece todas as veias,
que protege e destrói pétala e cartilagem,
a pequena larva da água
e o touro que investe contra o nascer do dia ...
Porque o dia vem.
E a nossa voz é um som que se prolonga,
através da noite.
Um som que só tem sentido na noite.
Um som que aprende, na noite,
a ser o absoluto silêncio.
Cecília Meireles
Doze Noturnos da Holanda
e outros poemas
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