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(Viktor Vasnetsov)
Resposta a versos de Arthur Miranda
Tu, jucundo cantor das alegrias,
alma forrada de estendais de luz,
que não levas das torvas agonias
a desumana e pungitiva cruz,
vai da existência pelo trilho brando
cantando o sol que te redoura a fronte!
Alegre hás de sentir todo o horizonte,
enquanto, alegre, fores tu andando...
Felizes esses que não têm a funda
tortura atroz da idéia, que, cruel,
mesmo os sorrisos da ventura inunda
de um ressaibo amaríssimo de fel!
E olha: eu não amo os velhos romantismos,
que usam do pranto, como jóia cara,
E cujas rimas de perícia rara
são crises vãs de sentimentalismo.
Vejo a miséria, a insipidez da vida,
que é como um verde e pútrido Paul,
e sei que é sobre nós a desmedida
curva do céu: uma mentira azul.
Então eu vergo irremíssivelmente
-sem que a tal mágoa possa achar remédio-
ao negro peso colossal do tédio
por tudo quanto minha vista sente.
E, pois, se creio todo o mundo triste,
é que a Tristeza na minnh’alma habita;
nela, entre escombros, funeral, crocita
um corvo: o Spleen que dentro em mim existe.
Medeiros e Albuquerque
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