terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
LEGADO
Eu já não deixo as mesmas madrugadas,
nem o luar em que me batizei.
Minha alma de carícias renegadas
contempla das imagens desmaiadas,
imagens clandestinas que acordei.
Não deixo qualquer nome de linhagem,
tampouco o da beleza e da magia.
Ficam as minhas cismas, a miragem;
o pouco de investida e de coragem
e as nuances de uma estranha fantasia.
Meu bem-querer - seu derradeiro espanto
que guardarei comigo até o final.
Minhas tardes quebradas de quebranto
num servilismo ao júbilo, conquanto
não fosse minha têmpora imortal.
Deixo a poesia - meu amor primeiro
onde cantei a vida e a solidão;
o tempo mais feliz e prazenteiro;
o dom de superar todo braseiro,
que ardia dentro em mim - no coração.
Deixo saudade onde encobri dstâncias
vôos longínquos do albatroz sem asas.
Parto pelo caminho de outras ânsias
a desvendar nas graves ressonâncias,
o limite do céu por entre as gazas.
Eu deixo a fé primeira do aprendiz
que navega nos mares da inquietude.
o meu farnel - a lira me bendiz,
o tempo que sonhei em ser feliz
e finalmente ser feliz não pude.
Deixo também meus poucos descendentes
ancorados à flor da mocidade.
São córregos de lúcidas vertentes;
são rios de pequenos afluentes,
mas são sementes para a eternidade.
Jandira Grillo
em Antologia 2000 - Academia Amparense de Letras
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