A alma é um cenário.
Por vezes, ela é como uma manhã brilhante e fresca,
inundada de alegria.
Por vezes ela é como um pôr do sol...
triste e nostálgico.

-Rubem Alves-

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segunda-feira, 30 de julho de 2007

'NOTURNO'



Chove do luar o orvalho. A noite luminosa
Como um dia de sol paira no salto cantando...
Junho ! Vejo em redor a expressão voluptuosa
Das camélias e dos jasmins desabrochando.

A paisagem que tem casinholas desertas
Perde-se ao longe entre as herdades e as estâncias.
Anda pelo ar um odor de corolas abertas,
Um cheiro bom que voa através das distâncias.

Ouço uma voz cantar e a melodia é tanta,
Tão comovente e tão sutil na solidão,
Que se tem a impressão de que é a lua que canta
E depois de cantar se desfolha no chão...

Minha vizinha doente abre a janela e espia
E banhando no luar o vulto taciturno,
Desperta do teclado, entre o amor e a agonia,
Saudade de Chopin nalgum velho Noturno.

Passa um boêmio. O seu vulto é uma mancha comprida
Na calçada que tem o alvor dos alabastros.
Fuma e a idéia talvez numa mulher querida,
Vai com os olhos seguindo a poeira azul dos astros.


Excerto de
Olegário Mariano
em 'Toda uma vida de Poesia.'

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