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Que pretensão de sermos uma ponte
entrelaçando gerações!
Que ilusão de sermos segmento
da sonhada trajetória!
Talvez sejamos contas de um rosário
de amor e morte
que os dedos trêmulos desfiam,
mal chegando até os lábios frios
o reprimido impulso de uma prece.
Com a saudade dos entes que perdemos
vamos tecendo os fios da existência
e de repente damos conta disso
como quem surpreende a própria idade
nas rugas ou nas mãos de um velho amigo.
Vivemos e, quanto mais os anos passam,
mais nosso ser é o ser dos encantados,
até chegarmos, peregrinos cegos,
junto ao muro das lágrimas iguais.
Miguel Reale
São Paulo(1910-2006)
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