terça-feira, 31 de março de 2009
AO VENTO
Foi para te colher neste ocaso tristonho,
Fruto do sofrimento,
Que eu, cantando, plantei a árvore do meu sonho,
Agora desfolhada pelo vento.
Uma vela, afrontando as surpresas do abismo,
Desaparece ao largo ...
asas fogem no azul ... a noite desce ... eu cismo ...
Como trava o teu sumo, fruto amargo!
Afinal, que ficou do indizível encanto
Dessas horas felizes ?
Luto no coração, na fronte vincos, pranto
Nos olhos, e no peito cicatrizes.
Quanto padecimento injusto a vida esconde
Nas suas emboscadas!
Nunca mais ouvirei os pássaros na fronde,
Ao clarear das auroras perfumadas ...
Da árvore que plantei só tu me restas, fruto!
E sorvo o teu veneno,
Sem uma hesitação no braço resoluto,
sem um tremor no coração sereno.
Ilusões de ternura e de felicidade,
O turbilhão vos leva ...
Vida, eu te desejei com toda a claridade:
Aceito-te, porém, com todas a treva.
Heitor Lima
in Primeiros Poemas
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