A alma é um cenário.
Por vezes, ela é como uma manhã brilhante e fresca,
inundada de alegria.
Por vezes ela é como um pôr do sol...
triste e nostálgico.

-Rubem Alves-

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segunda-feira, 23 de março de 2009

Flor de Outros Climas


(Fragrant Water Lily)

Vieste de um país de bruma,
De sonho e melancolia:
Teu corpo é feito de espuma,
Da espuma mais branca e fria.

Na mole tranqüilidade
Dos gestos, tu me recordas
Uma lírica saudade
De teclados e de cordas.

Trazes gravado no ouvido
Para mim ( feliz quem canta!)
Um velho canto esquecido
Nalguma velha garganta.

Trazes dos olhos no fundo
Um desespero abafado,
Novo pranto preparado
Para encher a arca do mundo.

Nas olheiras merencórias
Dos teus olhos tristes de ave,
Lê-se a tua história suave
Como todas as histórias.

Vens de longe... Assim que me olhas
Sinto a carícia das sedas...
Tens um perfume de folhas,
De parques e de alamedas.

Nas tuas mãos delicadas,
Abertas num lento aceno,
Passam veias azuladas
Do azul muito azul do Reno.

Flor que tombastes em desfolhos
Pela chuva e pela mágoa,
Eu descubro nos teus olhos
Castelos à beira d’água:

Parques, fontes que soluçam
Trovas na água transparente,
E garças que se debruçam
Na imensa calma do poente.

Um silêncio comovido
Pela estrada solitária,
Quando o corta o estranho ruído
De uma asa retardatária.

Vieste de imota paragem,
Como um símbolo de mágoa,
Trazendo a tua paisagem
Dos teus olhos à flor d’água.

E na boca envelhecida
Pelo mais rude desejo,
A vida... Que grande vida!
Num beijo... Que grande beijo!


Olegário Mariano (1932-1955)

Um comentário:

docerachel disse...

Maravilhoso! Fiquei sem fôlego.