sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010
Poema
Quem me quiser há-de saber as conchas
a cantiga dos búzios e do mar.
Quem me quiser há-de saber as ondas
e a verde tentação de naufragar.
Quem me quiser há-de saber as fontes,
a laranjeira em flor, a cor do feno,
a saudade lilás que há nos poentes,
o cheiro de maçãs que há no inverno.
Quem me quiser há-de saber a chuva
que põe colares de pérolas nos ombros
há-de saber os beijos e as uvas
há-de saber as asas e os pombos.
Quem me quiser há-de saber os medos
que passam nos abismos infinitos
a nudez clamorosa dos meus dedos
o salmo penitente dos meus gritos.
Quem me quiser há-de saber a espuma
em que sou turbilhão, subitamente
- Ou então não saber coisa nenhuma
e embalar-me ao peito, simplesmente.
Rosa Lobato de Faria
(Portugal-20 de abril de 1932/4 de fevereiro de 2010)
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Um comentário:
Curioso...ambos escolhemos o mesmo poema, para prestar o tributo à Rosa Lobato Faria!
Acredito que é belo, mesmo muito belo poema que canta a vida.
Gostei da imagem que escolheu... rima com as conchas e o mar.
Eu escolhi um tema que me é querido, as portas, por associação com o "fecho" de uma vida...às portas do Céu...
Ficaria muito contente com a sua visita!
Um abraço
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