quarta-feira, 5 de agosto de 2009
O Relógio
Ao redor da vida do homem
há certas caixas de vidro,
dentro das quais, como em jaula,
se ouve palpitar um bicho.
Se são jaulas não é certo;
mais perto estão das gaiolas
ao menos, pelo tamanho
e quadradiço de forma.
Uma vezes, tais gaiolas
vão penduradas nos muros;
outras vezes, mais privadas,
vão num bolso, num dos pulsos.
Mas onde esteja: a gaiola
será de pássaro ou pássara:
é alada a palpitação,
a saltação que ela guarda;
e de pássaro cantor,
não pássaro de plumagem:
pois delas se emite um canto
de uma tal continuidade
que continua cantando
se deixa de ouvi-lo a gente:
como a gente às vezes canta
para sentir-se existente.
João Cabral de Melo Neto
(1920-1999)Pernambuco
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Um comentário:
Cara Maria Madalena, o que dizer de um poema de tal qualidade literária ? Uma pérola. João Cabral de Melo Neto foi um dos poetas mais admiráveis do nosso país na minha opinião. Bj com carinho.
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