sexta-feira, 10 de agosto de 2007
"SPLEEN"
Quando o céu baixo cai, pesado como tampa,
Sobre a mente que sofre a dor de um longo açoite,
Toldando do horizonte sua inteira rampa,
Fazendo o dia negro, mais triste que a noite,
Quando a terra se torna uma gelada cela,
Lugar onde a Esperança, imitando o morcego,
Vai roçando no muro a asa com cautela,
Ferindo-se no teto podre sem sossego;
Quando a chuva desdobra cortinas enormes,
De uma vasta prisão imitando a muralha,
E um povo calado de aranhas disformes
No fundo da cabeça tece sua malha,
Badaladas de sino irrompem com furor
E lançam para o céu um urro de heresia,
Almas penadas sem volta e sem amor,
A gritar e gemer de pé, por teimosia.
-- E um longo funeral, sem música ou tambor,
Desfila devagar na alma; a Esperança
Vencida chora e a Angústia carniceira
Finca no crânio meu sua negra bandeira.
Charles Baudelaire
Tradução-Jorge Pontual
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