quarta-feira, 20 de agosto de 2008
'Sobre a Lenda do Pássaro Azul'
Israel Pedrosa, no livro “Da cor à cor inexistente”,
escreve que a lenda do pássaro azul, símbolo da felicidade inatingível, nasceu da analogia secreta do azul com o inacessível. Diante do azul – formula o autor –, a lógica do pensamento consciente cede lugar à fantasia e aos sonhos, que emergem dos abismos mais profundos de nosso mundo interior. Por sua indiferença, impotência e passividade aguda que fere, o azul atinge o portal do inconsciente.
Só o azul, desprovido da ardileza mundana, só o metafísico azul é pigmento de leveza e liberdade.
Da Vinci formulou: “o azul é composto de luz e trevas, de um preto perfeito e de um branco muito puro como o ar”. E disse Goethe: “o preto que clareia torna-se azul”, percebendo, na criação, a maravilhosa passagem da treva à luz. E, no desespero pela libertação das trevas, fizemo-nos Ulisses, e singramos a imensidão azul dos sete mares, e dos sete mil Danúbios azuis, na ânsia de apalparmos a matéria invisível dos sonhos.
Fizemo-nos Quixotes, pelas andanças em busca de devaneios, campeando nas quimeras da pureza. No deslizar da história, e tentando vencer a gravidade do chão, fizemo-nos, enfim, ritualísticos e desde sempre Ícaros. Contemplamos a terra como um sonho todo em azul.
No grande tear da existência, ao tecer as fibras mais ordinárias do estar e conviver no mundo, fazemos do azul a cor do Nirvana; dependuramos em nós a pedra-amuleto de água-marinha, na crença propiciatória das viagens tranqüilas; pintamos a casa nos tons de azul, se a queremos morada da felicidade.
E, se buscamos na fonte o batismo da inspiração, tingimo-nos de azul, e escrevemos uma crônica toda em azul. E azul será, imaginária e livre, a crônica de um amanhecer acinzentado, no espaço branco e preto do jornal.
Excerto da crônica – 'Liberdade é azul'- de Romildo Sant’Anna,
escritor, livre-docente,
recebeu o Prêmio ‘Casa de las Américas” – Havana.
É curador do Museu de Arte Primitivista ‘José Antônio da Silva’ – São José do Rio Preto –SP – Brasil
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2 comentários:
Maravilhoso este texto, Madalena... tem a ver com tudo que sinto.
Sei que estou sendo repetitiva, mas preciso dizer que desde sempre me identifiquei com "essa lenda"...mesmo sem ter nenhuma noção de coisa alguma, eu sentia a relação entre liberdade, pássaro, cor azul e felicidade...Talvez esteja tentando me convencer de alguma coisa, não sei...
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