quinta-feira, 7 de agosto de 2008
'No campo'
Tarde. Um arroio canta pela umbrosa
Estrada; as águas límpidas alvejam
Com cristais. Aragem suspirosa
Agita os roseirais que ali vicejam.
No alto, entretanto, os astros rumorejam
Um presságio de noute luminosa
E ei-la que assoma - a Louca tenebrosa,
Branca, emergindo às trevas que a negrejam.
Chora a corrente múrmura, e, à dolente
Unção da noite, as flores também choram
Num chuveiro de pétalas, nitente,
Pendem e caem - os roseirais descoram
E elas bóiam no pranto da corrente
Que as rosas, ao luar, chorando enfloram.
Augusto dos Anjos
Pau d’Arco - 1902
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