A alma é um cenário.
Por vezes, ela é como uma manhã brilhante e fresca,
inundada de alegria.
Por vezes ela é como um pôr do sol...
triste e nostálgico.

-Rubem Alves-

Seja bem-vindo. Hoje é
Deixe seu comentário, será muito bem-vindo, os poetas agradecem.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Outono


Uma lâmina de ar
atravessando as portas. Um arco,
uma flecha cravada no outono. E a canção
que fala das pessoas. Do rosto e dos lábios das pessoas.
E um velho marinheiro grave, rangendo o cachimbo como
uma amarra. À espera do mar. Esperando o silêncio.
É Outono. Uma mulher de botas atravessa-me a tristeza
quando saio para a rua, molhado, como um pássaro.
Vêm de muito longe as minhas palavras, quem sabe se
da minha revolta última. Ou do teu nome que repito.
Hoje há soldados elétricos. Uma parede
cumprimenta o sol. Procura-se viver.
Vive-se, de resto, em todas as ruas, nos bares e nos cinemas.
Há homens e mulheres que compram o jornal e amam-se
como se, de repente, não houvesse mais nada senão
a imperiosa ordem de (se) amarem.
Há em mim uma ternura desmedida pelas palavras.
Não há um nome para a tua ausência. Há um muro
que os meus olhos derrubam. Um estranho vinho
que a minha boca recusa. É Outono.
A pouco e pouco despem-se as palavras.


Joaquim Pessoa,
In 125 Poemas,antologia poética.

4 comentários:

Úrsula Avner disse...

Belo poema, rica postagem... Bj com saudades.

Henrique Rodrigues Soares disse...

Maria Madalena, devo a você a descoberta deste mundo de blogs poéticos, até na construção do meu, tem sua influência.

Sds.

Maria Madalena Schuck disse...

Querida Úrsula, muitas saudades também, não te encontro mais no orkut...

Estimado Henrique, vc é muito gentil, imagina dever-me algo, fico muito feliz por sua vida poética, (plena de poemas maravilhosos) e por seu lindíssimo blog.
Obrigada a você!
Bjs a todos.

Fernando Campanella disse...

Belo poema em quase prosa , Mada. Não conhecia Joaquim Pessoa, gostei muito. Metáforas inusitadas, o sentimento despindo as palavras. Grande abraço.