quarta-feira, 23 de setembro de 2009
SONETO
A uma réstia de sonho chamam vida.
A uma sombra maior chamam-lhe morte.
Vida e morte, não mais, pouso e suporte,
sopro de permanência e despedida.
Uma treva febril noite é chamada.
A uma luz mais febril chamam-lhe dia.
E entre elas se põe a estrela fria
que irrompe como flor da madrugada.
Paira em tudo um silêncio que anoitece,
que amanhece, e que vence todo ruído,
e como sol não visto num perdido
horizonte se esfaz e se retece.
Tudo é longe demais, por demais perto.
E a alma, que faz neste feroz deserto?
Alphonsus de Guimaraens Filho
(Minas Gerais -1918-2008)
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