terça-feira, 29 de setembro de 2009
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(Tereza Zafon)
E agora
já é ontem,
o ainda agora
cinza rapsódia
fundo soturno das
imagens encantadas.
Roubar do infinito
as palavras ditas
pretensão do sim.
Meus desejos,
ilusões deste mundo
que reza a solidão.
As letras das canções
que se separam e se
juntam,
numa insuportável,
interminável serenata
em despedida
Pode você enxergar
tudo que se foi
e ouvir?
Lembre-se daquele telhado
no subúrbio, atravessado
pelo trem da memória.
Jacob Pinheiro Goldberg
FANTASMAS
Lívidos fantasmas deslizam nas horas perdidas
Chegam à minha alma
E como sombras da noite
Levantam os meus ímpetos mortos
Desatando as ligaduras do tempo.
O luar da madrugada fria cai no meu rosto
E ilumina com branda amargura
O meu espírito que espera a hora insolúvel.
Os caminhos cobrem-se de homens que dormem na morte
E cresce no meu coração um desejo incontido
Para uma união mais forte, mais intensa e mais perfeita.
A minha pupila é banhada pela enorme lágrima
Que umedecerá o solo castigado.
A lágrima que levará ternura às existências sofridas,
A lágrima que se mudará em sangue,
Que levantará a vida morta do universo!
Nova York, 1944
Adalgisa NeryIn
in: Cantos da Angústia
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
Chuva
Chuva morna, chuva de verão
Borbulha de arvores e arbustos.
Oh! Como é bom e cheio de benção
Uma vez mais sonhar de verdade!
Quanto tempo fiquei aqui fora,
Quão estranha essa sensação:
Habitar a própria alma,
O estranho, sem atração.
Nada quero, nada peço.
Baixinho cantarolo sons de criança,
E, surpreso, chego ao berço
Dos sonhos quentes de folgança.
Coração, como estás machucado
Porem feliz, remexendo cegamente,
Nada pensar, nada saber,
Respirar e sentir, somente.
Hermann Hesse
In: Caminhada
sábado, 26 de setembro de 2009
POÇAS D’ÁGUA
. . . poesia dançando nos campos da alma
na evocação da presença lagrima
a dormir na prece do vento irrequieto.
. . . murmúrio do amor que se deitou sozinho
na cama fria da desesperança
com saudade do abraço que aquece os corpos
do beijo a sussurrar promessas presença.
. . . procissão de vozes a se fazerem mar verde
de versos que o vento beija sem chorar
de ilhas virgens a não se deixarem tocar.
Poças d’agua
em meus olhos pisados de paisagens alagadas
inundados de todas as vivencias
vivencias de meus horizontes timidos
a repousarem sobre estradas gritantes.
Alvina Nunes Tzovenos
In: 'Palavras ao Tempo'
(Rio Grande do Sul-1927)
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
Há uma solidão no céu
Há uma solidão no céu,
uma solidão no mar
e uma solidão na morte.
Mas fazem todas companhia
comparadas a este local profundo,
esta polar intimidade,
uma Alma que reconhece a Si mesma:
finita infinidade.
Emily Dickinson
Tradução de Paulo Mendes Campos
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Fazer um Céu
Fazer um céu, com pouco a gente faz
basta uma estrela
uma estrela e nada mais.
Pra ter nas mãos o mundo
basta uma ilusão
um grão de areia
é o mundo em nossa mão.
Sonhar é dar à vida nova cor
dar gosto bom às lagrimas de dor
o sol pode apagar, o mar perder a voz
mas nunca morre um sonho bom dentro de nós.
Mário Lago
(Rio de Janeiro-1911-2001)
MOTO
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
O amor tem vozes misteriosas...
- O amor tem vozes misteriosas
No coração implume...
- Como são cheirosas as primeiras rosas,
E os primeiros beijos como têm perfume!
- O amor tem prantos de abandono
No coração que morre...
- As folhas tombam quando vem o outono,
E ninguém as socorre!
- O amor tem noites, noites inteiras,
De agonias e de letargos...
- Que tristeza têm as rosas derradeiras,
E os últimos beijos como são amargos!
Alphonsus de Guimaraens
(pai)
(Mina Gerais- 1870-1921)
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
COMO UM EMBALO
Fosse uma chama, crepitaria
sob meus dedos, na solidão.
Nada mais quero, nada queria.
As noites chegam, os dias vão.
Fosse uma chama, breve arderia,
brasa de sonho, na escuridão.
Já nada quero da luz do dia...
Queima uma estrela na minha mão.
Mas nada quero da luz da estrela...
(Chegam as noites, os dias vão.)
Por que sonhá-la, se vais perdê-la,
alma perdida na solidão?
Alphonsus de Guimaraens Filho
In Água do Tempo, 1976
(Minas Gerais -1918-2008)
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SONETO
A uma réstia de sonho chamam vida.
A uma sombra maior chamam-lhe morte.
Vida e morte, não mais, pouso e suporte,
sopro de permanência e despedida.
Uma treva febril noite é chamada.
A uma luz mais febril chamam-lhe dia.
E entre elas se põe a estrela fria
que irrompe como flor da madrugada.
Paira em tudo um silêncio que anoitece,
que amanhece, e que vence todo ruído,
e como sol não visto num perdido
horizonte se esfaz e se retece.
Tudo é longe demais, por demais perto.
E a alma, que faz neste feroz deserto?
Alphonsus de Guimaraens Filho
(Minas Gerais -1918-2008)
Marcadores:
Alphonsus de Guimaraes Filho
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
A JANELA DA VIDA
Olho,
à janela,
o tempo
que passa
e não espera
ninguém.
Tempo ingrato
Tempo que marca
a vida,
tempo perdido
no tempo,
tempo alegre,
tempo bom.
O tempo
é como o rio:
transporta
a vida
na barquinha
das recordações...
Delores Pires
In 'A Estrela e a Busca'
Poema retirado do blogger 'Gotas de Poesia e Outras Essências'
Feliz Ano 5770 !!!
domingo, 20 de setembro de 2009
Somos pessoas estranhas
sábado, 19 de setembro de 2009
Próximo à viagem
Aqui em meu quarto
restarão todas as coisas que
me acompanham.
Ainda que em minha escrivaninha
se abisme o último grão da vertical de areia,
continuará incessante em meu corpo.
No regresso, se eu regressar, os livros terão algo de poeira.
A tarde se acostumará
à penumbra do silêncio.
Somente deixo minha ausência.
Arturo Herrera
Tradução:Ronaldo Cagiano
(Argentina- 1974)
Barcos é que somos
Legenda
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
A ESTRELA COMPANHEIRA
Estava
só
na noite
escura.
Andava
ao léu,
passos
incertos.
A estrela
me viu
tristonho
e me fez
companhia...
Delores Pires
In 'A Estrela e a Busca'
Poema retirado do blog "Gotas de poesias e outras essências"
Isento
Mira-te pelo calendário das flores
Que são só viço e esquecimento.
Desprende-te dos ofícios do dia,
Apaga os números, os anos e anos,
Releva a data de teu nascimento.
E assim, por tão leve sendo,
Por tão de ti isento,
De uma quase não resistência de pluma,
Abraça o momento,
Te apruma,
Tome por bagagem os sonhos
E apanha carona no vento.
Fernando Campanella
(Poema em homenagem pelo aniversário
de minha amiga Maria Madalena)
sábado, 12 de setembro de 2009
O sol de nossas vidas...
Remanso
(Santorini- Grécia)
Tarde triste e silenciosa
de vila de beira mar:
uma tarde cor-de-rosa
que vai morrendo em luar...
Ao longe, a várzea cintila
de uns restos de sol poente;
mas, por sobre toda a vila
-- do morro a que fica rente --
desce uma sombra tranqüila
e anoitece lentamente.
Nem rumor da natureza,
nem eco de voz humana
perturba a infinita calma,
a solitária vila praiana.
Nem se ouve o mar, longe, e manso!
A tudo, em redor, invade
um ar de mole descanso...
Silêncio... Imobilidade...
Como que interrompida
a correnteza da vida
fez neste ponto um remanso.
Vicente de Carvalho
"BECO"
Que se passa naquele beco
onde nunca estive?
Vislumbro o muro de passagem:
sombras, manchas, rastros
de existência.
Quem o habita, se é que o habita
alguém, se é que o beco
existe como existem
seres e coisas que vejo?
Quem derrama nesse recanto do universo
o sinal de vida, a marca indelével
da matéria organizada?
O que existe fora do meu
alcança de vista? Quem brinca
de esconder quando relembro
o muro caiado, a rua esquecida?
O que não vejo, pressinto:
existe mesmo ou é extinto
para mim, ignorado
como esse beco aonde nunca fui?
Fernando Py
in '70 Poemas Escolhidos'
domingo, 6 de setembro de 2009
Os seres amados multiplicaram-se
e cobriram-me a vida como estrelas num céu próximo.
E vivi deslumbrado
longamente.
Mas tinha cada um o seu destino,
tinha cada um o seu caminho diferente.
Os seres amados dispersaram-se,
perderam-se nas distâncias enormes.
E eu fiquei triste e pobre,
sentindo vagamente
na minha solidão
sua profunda pulsação longínqua.
Tasso Da Silveira
In: Poemas De Antes
Os seres amados são sombras que se apagam,
são sombras de um jardim, no entardecer.
Nós tínhamos no olhar o encantamento
dos lúcidos recortes,
dos arabescos harmoniosos
desenhados no chão.
Mas um por um diluiram-se os desenhos
numa sombra maior ...
Os seres amados são sombras,
são sombras de um jardim, no entardecer ...
Tasso da Silveira
in Poemas
FUNERAL BLUES
Stop all the clocks, cut off the telephone,
prevent the dog from barking with a juicy bone,
silence the pianos and, with muffled drums,
bring out the coffin, let the mourners come.
Let airplanes circle moaning overhead
scribbling on the sky the message: he's dead.
Put crepe-bows round the white necks of the public doves,
let the traffic policemen wear black cotton gloves.
He was my North, my South, my East and West,
my working week, my Sunday rest,
my noon, my midnight, my talk, my song.
I thought that love would last forever; I was wrong.
The stars are not wanted now, put out every one.
Pack up the moon, dismantle the sun.
Pull away the ocean and sweep up the wood.
For nothing now can ever come to any good.
W.H. Auden
Wystan Hugh Auden
(England 1907-1973)
Blues Fúnebres
Que parem os relógios, cale o telefone,
jogue-se ao cão um osso e que não ladre mais,
que emudeça o piano e que o tambor sancione
a vinda do caixão com seu cortejo atrás.
Que os aviões, gemendo acima em alvoroço,
escrevam contra o céu o anúncio: ele morreu.
Que as pombas guardem luto — um laço no pescoço —
e os guardas usem finas luvas cor-de-breu.
Era meu norte, sul, meu leste, oeste, enquanto
viveu, meus dias úteis, meu fim-de-semana,
meu meio-dia, meia-noite, fala e canto;
quem julgue o amor eterno, como eu fiz, se engana.
É hora de apagar estrelas — são molestas —
guardar a lua, desmontar o sol brilhante,
de despejar o mar, jogar fora as florestas,
pois nada mais há de dar certo doravante.
Tradução de Nelson Ascher
do livro "Poesia Alheia" 1.998
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
Prayer
Great God, I ask for no meaner pelf
Than that I may not disappoint myself,
That in my action I may soar as high
As I can now discern with this clear eye.
And next in value, which thy kindness lends,
That I may greatly disappoint my friends,
Howe'er they think or hope that it may be,
They may not dream how thou'st distinguished me.
That my weak hand may equal my firm faith
And my life practice what my tongue saith
That my low conduct may not show
Nor my relenting lines
That I thy purpose did not know
Or overrated thy designs.
Henry David Thoreau
(1817-1862- Massachusetts-EUA)
Anoitecer
ACORDE
TUMULTO
Tempestade. O desgrenhamento
Das ramagens ... O choro vão
Da água triste, do longo vento,
Vem morrer-me no coração.
A água triste cai como um sonho,
Sonho velho que se esqueceu ...
(quando virás, ó meu tristonho
Poeta, ó doce troveiro meu! ...)
.....................................................
E minha alma, sem luz nem tenda,
Passa errante, na noite má,
À procura de quem me entenda
E de quem me consolará ...
Cecília Meireles
In Nunca Mais e Poema dos Poemas (1923)
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