segunda-feira, 13 de julho de 2009
PÓRTICO
Da janela, na chuva, alguém procura
achar sua alma irmã na noite escura.
Na tuba enferrujada, desafina
o músico esquecido numa esquina.
O incêndio esconde o palco todo em fumo
e o mágico, aturdido, perde o rumo.
Entre gavião e pombo, uma vidraça
frustra o golpe mortal e se estilhaça.
As ondas que se quebram contra o dique
refluem sobre si e vão a pique.
Se a parábola volta, é que, na certa,
não a colheu a mente astuta e alerta.
A carta, na garrafa que se alaga,
o mar a lê, a leva, lava e apaga.
O canto do poeta é coisa vã
se o sol canta por si, toda manhã.
Reynaldo Valinho Alvarez
in A Faca Pelo Fio
Poemas Reunidos
(1931-Rio de Janeiro)
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