rondamos; mas detém-nos esta invisa
muralha que o defende do mergulho.
Em vão se trava o lúcido combate
do espírito com a treva desta morte.
Nas fronteiras, em vão, sem passaporte,
contra os vidros o espírito se bate.
Raro, entretanto, um luar se verifica:
e um fluxo repentino de águas puras,
na insólita preamar, subtrai alturas,
muralhas dobra. O mar se comunica.
Então esse infinito mar ignoto
cabe, fugaz, no escasso — enquanto dura
em ponte a vaga breve. Após, fulgura
em cada poça fria um sol remoto.
E a alma, em vão, do áureo mar que assim transborda
provado o céu, tenta, em sequiosa ronda,
dos altos muros escalar a borda
e restaurar o azul num rasto de onda.
Anderson Braga Horta
Cronoscópio (1983)
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