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Este é o começo do dia,
como o começo e o fim do mundo:
as nuvens aprendem a voar,
os campos vão sonhando nuvens,
o vento vai sonhando o pó
onde tristemente o amor palpitará.
Este é o começo do dia.
Vemos tudo o que já foi visto,
alguma coisa não mais se verá.
Nem sempre olhamos o dia
tão face a face e tão docemente.
Nem sempre sentimos esta saudade,
ainda ausente, ainda futura,
do que há e do que não há.
Este é o começo do dia:
- do céu, da luz, da terra, dos homens,
que acontecerá?
1954
Cecília Meireles
In: Poesia Completa
Dispersos (1918-1964)
2 comentários:
Não há nem como comentar, é belíssimo!
beijo
Sim, belíssima Cecília, que poema mais lindamente delicado, uma tristeza delicada, bela, eu diria. Abraços, minha amiga.
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