domingo, 31 de janeiro de 2010
Fevereiro
Fevereiro entre dois amores:
Quaresmeiras e manacás.
O roxo pode ser amor primeiro
Mas arrasto asas ao branco
ao violáceo, ao lilás.
F. Campanella
da série 'Efemérides'
Janeiro
sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
Nuvens dos olhos meus, de altas chuvas paradas
Nuvens dos olhos meus, de altas chuvas paradas,
- por chãos de adeuses vão-se os dias em tumulto,
em noites êrmas e saudades longe morre.
Sem testemunha vão passando as horas belas.
Tudo que pôde ser vitória cai perdido,
Sem mãos, sem posse, pela sombra, entre os planêtas.
Tudo é no espaço - desprendido de lugares.
Tudo é no tempo - separado de ponteiros.
E a bôca é apenas instrumento de segredos.
Por que esperais, olhos severos, grandes nuvens?
Tudo se vai, tudo se perde, - e vós, detendo,
num prêso céu, fora da vida, as águas densas
de inalcançáveis rostos amados!
Cecilia Meireles
in Solombra
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
POEMA
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
'O POETA '
Também eu, sonhador, que vi correr meus dias
Na solene mudez da grande solidão,
E soltei, enterrando as minhas utopias,
O último suspiro e a última oração;
Também eu junto à voz da natureza,
E soltando o meu hino ardente e triunfal,
Beijarei ajoelhado as plantas da beleza,
E banharei minh'alma em tua luz, — Ideal!
Ouviste a natureza? Às súplicas e às mágoas
Tua alma de mulher deve de palpitar;
Mas que te não seduza o cântico das águas,
Não procures, Corina, o caminho do mar!
Machado de Assis
de 'Horas Vivas"
POÇAS D’ÁGUA
. . . poesia dançando nos campos da alma
na evocação da presença lagrima
a dormir na prece do vento irrequieto.
. . . murmúrio do amor que se deitou sozinho
na cama fria da desesperança
com saudade do abraço que aquece os corpos
do beijo a sussurrar promessas presença.
. . . procissão de vozes a se fazerem mar verde
de versos que o vento beija sem chorar
de ilhas virgens a não se deixarem tocar.
Poças d’água
em meus olhos pisados de paisagens alagadas
inundados de todas as vivencias
vivencias de meus horizontes tímidos
a repousarem sobre estradas gritantes.
Alvina Nunes Tzovenos
In: Palavras ao Tempo
ANALOGIA
Torres de igreja
lembram
regressos próximos
ou alguém partindo
para não mais voltar.
Torres de igreja
lembram
o belo em sua pujança
almas em desespero por crenças
desafio de destinos
nunca cansaços ou incertezas.
Torres de igreja
lembram
flores que nunca fenecem
beijos que se eternizam
ou a fidelidade do mar
com palavras sem renuncia.
Alvina Nunes Tzovenos
In: Palavras ao Tempo
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
Houve noites
(Paint by Regina Noakes)
Houve noites em que sonhei
que o sol incendiava as pedras
que eu pisava.
Ou eram os meus pés
que ateavam o fogo?
À espera que as lembranças
me tranquilizem
cubro, com o véu do tempo,
o meu verdadeiro rosto.
Desfaço a bainha
dos panos que me vestem
com a farpa desta sede lenta
que se oculta na terra
sem retorno.
Graça Pires
De 'Uma extensa mancha de sonhos', 2008
Da tua ausência
Voltarei sempre às paisagens da tua sombra
enfeitada de madressilvas.
Gravarei o teu nome em todas as árvores,
sem marginalizar as razões da tua ausência.
Cantarei palavras sem espessura,
como moinhos de vento,
ou o frágil sabor da chuva.
Dançarei contigo na periferia da manhã
e direi onde começa e acaba
o secreto destino do silêncio.
Graça Pires
De 'Conjugar afectos', 1997
Interioridade
Aqui estou, cercada de mim,
melancolia trazida
do interior de um bosque,
silhueta a preto e branco
na figuração de um pássaro em voo lento.
Há quanto tempo,
só eu sei quanto,
as amarras de um barco
se quebraram,
no interior frágil
do instante em que fui vento,
ou apenas um abandono breve,
como as mãos no acto de dar.
No ângulo do grito e da língua
se explica a leveza das lágrimas,
circunfluência no interior das pálpebras,
longínquo lago na cintura dos lábios.
Cheguei ao lugar onde se cruzam
todos os ventos sem hálito
e chamo pelo nome os frutos e a fome,
para que ninguém se comprometa
ao tocar nos meus ombros.
Graça Pires
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
AQUELES QUE SONHAM
onde colocam a esperança
onde perderam suas florestas
antes nunca habitadas
. . . nasceram com deuses e os cultivam em seus jardins.
não se nutrem de uma ciência cega.
suas praias dormem o sono morno das paisagens ao poente.
não sujam suas mãos com sombras falsas.
lêem a leitura das danças honestas.
são eternos aprendizes do amor.
não se assustam da obscuridade das horas inexatas.
não se impacientam com as noites silenciosas e extáticas.
possuem mascaras de luas, sois e estrelas.
não se limitam a horizontes incolores ou a versos sem humanidade.
subemtem-se a desembrulhar emoções matizadas de valores
gastos ou não.
sangram, quando chega tarde demais o amor,
ou, suas raízes não as adubam nunca.
despem-se da petrificação dos dias iguais.
Aqueles que sonham
amam demais e exigem demais
do amor, da vida e da morte.
Oh, aqueles que sonham. . .
são poetas a contradizerem-se.
Alvina Nunes Tzovenos
In: Palavras ao Vento.
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
VER
Essas portas do ver: nos olhos belos
pálpebras simulando pétalas
fechando escuras rosas.
Abertas – túneis de luz varando trevas
(tréguas de um passado horto
de um porto se afastando).
A nave se arrisca e já é mar
de pálpebras descidas.
O jardim gera rosas e o espinho ríspido.
O dom vem do profundo: calor do frio
filho calmo do espanto
flor da cicatriz.
Pelas portas do ver nada retenho
sem raiz.
Dora Ferreira da Silva
In: Poesia Reunida
Jardins (esconderijos) 1979
domingo, 10 de janeiro de 2010
Tears, idle tears, I know not what they mean
Tears, idle tears, I know not what they mean,
Tears from the depth of some divine despair
Rise in the heart, and gather to the eyes,
In looking on the happy autumn-fields,
And thinking of the days that are no more.
Fresh as the first beam glittering on a sail,
That brings our friends up from the underworld,
Sad as the last which reddens over one
That sinks with all we love below the verge;
So sad, so fresh, the days that are no more.
Ah, sad and strange as in dark summer dawns
The earliest pipe of half-awakened birds
To dying ears, when unto dying eyes
The casement slowly grows a glimmering square;
So sad, so strange, the days that are no more.
Dear as remembered kisses after death,
And sweet as those by hopeless fancy feigned
On lips that are for others; deep as love,
Deep as first love, and wild with all regret;
O Death in Life, the days that are no more!
Lord Alfred Tennyson,
(England ,1809-1892)
sábado, 9 de janeiro de 2010
A Fine Day
After all the rain, the sun
Shines on hill and grassy mead;
Fly into the garden, child,
You are very glad indeed.
For the days have been so dull,
Oh, so special dark and drear,
That you told me, "Mr. Sun
Has forgotten we live here."
Dew upon the lily lawn,
Dew upon the garden beds;
Daintly from all the leaves
Pop the little primrose heads.
And the violets in the copse
With their parasols of green
Take a little peek at you;
They're the bluest you have seen.
On the lilac tree a bird
Singing first a little not,
Then a burst of happy song
Bubbles in his lifted throat.
O the sun, the comfy sun!
This the song that you must sing,
"Thank you for the birds, the flowers,
Thank you, sun, for everything."
Katherine Mansfield
(New Zeland- 1888-1923)
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
'Improviso à janela'
Este é o começo do dia,
como o começo e o fim do mundo:
as nuvens aprendem a voar,
os campos vão sonhando nuvens,
o vento vai sonhando o pó
onde tristemente o amor palpitará.
Este é o começo do dia.
Vemos tudo o que já foi visto,
alguma coisa não mais se verá.
Nem sempre olhamos o dia
tão face a face e tão docemente.
Nem sempre sentimos esta saudade,
ainda ausente, ainda futura,
do que há e do que não há.
Este é o começo do dia:
- do céu, da luz, da terra, dos homens,
que acontecerá?
1954
Cecília Meireles
In: Poesia Completa
Dispersos (1918-1964)
ROSA CÉTICA
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
VALSA DE ADEUS
Tudo é partida de navio, velas
ao vento, coisas desancoradas
que se desgarram. Este copo, esta pedra
que pronuncio não são palavras, nem
versos de amor, nem o sopro
vivificante do espírito. São barcos
arrastados pelo tempo, cascas
de fruta na enxurrada, lenços
de adeus, enquanto o vapor se afasta,
e de longe ilumina essa ausência que somos.
Rio, 15/3/80
Hélio Pellegrino
In: Minérios Domados
BALADA DE HEMINGWAY
(O Velho e o Mar (The Old Man And The Sea)
de Alexander Petrov)
O mar era pleno e puro.
ao fundo, a grande presença.
Em torno ao barco oscilante,
a infinita solitude
das águas, do céu, do vento.
O mar era pleno e puro,
em tôrno a pura beleza
no barco o desejo e o sonho
do lidador extenuado
sentindo a presença enorme
ao fim da linha retêsa.
O mar era pleno e puro.
Hemingway, que a dor me deixe
cantar a balada triste
teu velho, teu mar, teu peixe:
sim, que me deixe cantar.
O mar era puro e pleno:
era todo o imenso mar...
Tasso da Silveira
Poemas de Antes – l.966 –
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
O MAR
segunda-feira, 4 de janeiro de 2010
En la niebla
¡Qué extraño es vagar en la niebla!
En soledad piedras y sotos.
No ve el árbol los otros árboles.
Cada uno está solo.
Lleno estaba el mundo de amigos
cuando aún mi cielo era hermoso.
Al caer ahora la niebla
los ha borrado a todos.
¡Qué extraño es vagar en la niebla!
Ningún hombre conoce al otro.
Vida y soledad se confunden.
Cada uno está solo.
Hermann Hesse
Versión de Andrés Holguín
domingo, 3 de janeiro de 2010
A UMA FLOR
sexta-feira, 1 de janeiro de 2010
'SOBRE O OUTONO E AS ÁRVORES'
Assinar:
Postagens (Atom)