A alma é um cenário.
Por vezes, ela é como uma manhã brilhante e fresca,
inundada de alegria.
Por vezes ela é como um pôr do sol...
triste e nostálgico.

-Rubem Alves-

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segunda-feira, 8 de junho de 2009

Tear



Num reino de bruma, entre os ramos
de árvores quase secas e breves trilhos,
o ar libertava uma vaga espuma,
e a luz soltava líquidos brilhos.

Numa clareira, sombras de saudade
caíam sobre arbustos rasos, e um canto
de campo enchia de sede os vasos
que o tempo partiu num dobrar da idade.

Colhi antigas papoilas, e colei-as
no álbum do horizonte, com o cuspo
do poente, enquanto uma voz distante
rezava o fim de uma oração doente.

E na água parada da lagoa, com os
braços soltos como remos sem uso,
uma parca branca vogava, à toa,
tecendo o destino na linha do seu fuso.


Nuno Júdice
Postado no blog do autor na véspera seu aniversário,
28/04/2008

2 comentários:

ZeCarlosM disse...

Olá.
Como sempre é um encanto este cantinho, sempre que aqui passo levo comigo alguma coisa.

Eu adoro a montanha e as florestas cheias de neblina...tão bem descritas neste poema, simplesmente fabuloso.

Obrigado pela sua permanente recolha de excelentes e inovadores textos. Obrigado por partilhar.

Sonia Schmorantz disse...

Belíssimo, já o guardei também...
beijos