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Num reino de bruma, entre os ramos
de árvores quase secas e breves trilhos,
o ar libertava uma vaga espuma,
e a luz soltava líquidos brilhos.
Numa clareira, sombras de saudade
caíam sobre arbustos rasos, e um canto
de campo enchia de sede os vasos
que o tempo partiu num dobrar da idade.
Colhi antigas papoilas, e colei-as
no álbum do horizonte, com o cuspo
do poente, enquanto uma voz distante
rezava o fim de uma oração doente.
E na água parada da lagoa, com os
braços soltos como remos sem uso,
uma parca branca vogava, à toa,
tecendo o destino na linha do seu fuso.
Nuno Júdice
Postado no blog do autor na véspera seu aniversário,
28/04/2008
2 comentários:
Olá.
Como sempre é um encanto este cantinho, sempre que aqui passo levo comigo alguma coisa.
Eu adoro a montanha e as florestas cheias de neblina...tão bem descritas neste poema, simplesmente fabuloso.
Obrigado pela sua permanente recolha de excelentes e inovadores textos. Obrigado por partilhar.
Belíssimo, já o guardei também...
beijos
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