quinta-feira, 14 de maio de 2009
'É impróprio ser famoso'
É impróprio ser famoso
pois não é isso que eleva.
E não vale a pena ter arquivos
nem perder tempo com manuscritos velhos.
O caminho da criação é a entrega total
e não fazer barulho ou ter sucesso.
Infelizmente, nada significa
como uma alegoria andar de boca em boca.
Mas é preciso viver sem pretensões,
viver de tal modo que no fim de contas
venha até nós um amor ideal
e ouçamos o apelo dos anos que hão de vir.
O que é preciso rever
é o destino, não antigos papéis;
lugares e capítulos de uma vida inteira
anotar ou emendar.
E mergulhar no anonimato,
e ocultar nele os nossos passos,
como foge a paisagem na neblina
em plena escuridão.
Que outros nesse rasto vivo
seguirão o teu caminho passo a passo,
mas tu próprio não deves distinguir
a derrota da vitória.
E não deves por um só instante
recuar ou trair o que tu és,
mas estar vivo, e só vivo,
e só vivo - até ao fim.
Boris Pasternak
Poeta, romancista e filosofo judeu-russo, ganhador do premio Nobel de Literatura em 1958, impedido, pelo regime de seu pais, de receber o premio, viveu em precária situação até seu falecimento em 1960.Seu romance Doutor Jivago, deu-lhe reconhecimento popular a nível mundial.
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