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Aléia de bambus, verde ogiva
recortada no azul da tarde mansa,
o ouro do sol treme na areia da alameda
farfalham folhas, borboletas florescem.
Portão de sombra em plena luz.
Gemem as lisas taquaras como frautas folhudas
onde o vento imita o mar.
Marcel, menino mimoso, estou contigo, Proust:
vejo melhor a amêndoa negra dos teus olhos.
Transparência de uma longa vigília,
imagino as tuas mãos
como dois pássaros pousados na penumbra.
Escuta - a vida avança, avança e morre...
Prender a onda que franjava a areia loura de Balbec?
Cetim róseo das macieiras no azul.
Flora carnal das raparigas passeando à beira-mar.
Bruma esfuminho Paris pela vidraça
Intermitências chuva e sol ‘Le temps perdu.’
Marcel Proust, diagrama vivo sepultado na alcova.
O teu quarto era maior que o mundo:
Cabia nele outro mundo...
Fecho o teu livro doloroso nesta calma tropical
como quem fecha leve, leve, a asa de um cortinado
sobre o sono de um menino...
Augusto Meyer
(1902/1970)
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