A alma é um cenário.
Por vezes, ela é como uma manhã brilhante e fresca,
inundada de alegria.
Por vezes ela é como um pôr do sol...
triste e nostálgico.

-Rubem Alves-

Seja bem-vindo. Hoje é
Deixe seu comentário, será muito bem-vindo, os poetas agradecem.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

A flower to my friend

(Foto by Fernando Campanella)

A flower to my friend -
what other gift
could there be
other than
this ephemeral eternity?

Fernando Campanella
(28/04/2010)
From my heart, Dear Mada, this gift that I hope can express all my friendship to you. HAPPY BIRTHDAY, MY DEAR, DEAR, SISTER IN SOUL.

Muito obrigada...


Agradeço a amiga Regina Helena a lembrança pela passagem do dia de meu nascimento.
Fiquei surpresa e muito sensibilizada pelo lindo trabalho que ela me dedicou.
Não tenho palavras para agradecer, somente pedir a Deus que esteja sempre com ela, e compartilhar com os amigos as coisas mais belas de minha vida, que tão bem colocou nesse carinhoso livro.
Muito obrigada, obrigada cunhada de coração!
Maria Madalena
28/04/2010

terça-feira, 27 de abril de 2010

RESQUÍCIO



Às vezes
A dor de chuvas passadas
Cai em mim fina,
Reelaborada,
A ponto de não ser eu
Assim mais que bolhas
Na espuma da tarde
Molhada.

Fernando Campanella

sábado, 24 de abril de 2010

O HOMEM DA NEVE


É preciso uma mente de inverno
Para olhar a geada e os ramos
Dos pinheiros cobertos pela nevada

E há muito tempo fazer frio
Para observar os zimbros arrepiados de gelo,
Os abetos ásperos no brilho distante

Do sol de janeiro; e não pensar
Em qualquer miséria no som do vento,
No som de umas poucas folhas

Que é o som da terra
Cheia do mesmo vento
Que sopra no mesmo lugar vazio

Para alguém que escuta, escuta na neve,
E, ausente, observa
Nada que não está lá e o nada que é.


Wallace Stevens
Tradução de Paulo Venâncio Filho


The snow man

One must have a mind of winter
To regard the frost and the boughs
Of the pine-trees crusted with snow;

And have been cold a long time
To behold the junipers shagged with ice,
The spruces rough in the distant glitter

Of the January sun; and not to think
Of any misery in the sound of the wind,
In the sound of a few leaves,

Which is the sound of the land
Full of the same wind
That is blowing in the same bare place
For the listener, who listens in the snow,
And, nothing himself, beholds
Nothing that is not there and the nothing that is.

Wallace Stevens

sexta-feira, 23 de abril de 2010

À HORA CINZENTA

Desce um longo poente de elegia
Sobre as mansas paisagens resignadas;
Uma humaníssima melancolia
Embalsama as distancias desoladas. . .


Longe, num sino antigo, a Ave-Maria
Abençoa a alma ingênua das estradas;
Andam surdinas de anjos e de fadas,
Na penumbra nostálgica, macia. . .


Espiritualidades comoventes
Sobem da terra triste, em reticência
Pela tarde sonâmbula, imprecisa. . .


Os sentidos se esfumam, a alma é essência
E entre fugas de sombras transcendentes,
O Pensamento se volatiliza. . .



Raul de Leoni
In: Luz Mediterrânea

quinta-feira, 22 de abril de 2010

somewhere i have never travelled... (LVII)

(E. E. Cummings "Mt. Chocorua."Oil on canvas. Ca. 1938.)

somewhere i have never travelled, gladly beyond
any experience, your eyes have their silence:
in your most frail gesture are things which enclose me,
or which i cannot touch because they are too near

your slightest look easily will unclose me
though i have closed myself as fingers,
you open always petal by petal myself as Spring opens
(touching skilfully, misteriously) her first rose

or if your wish be to close me, i and
my life will shut very beautifully, suddenly,
as when the heart of this flower imagines
the snow carefully everywhere descending;

nothing we are to perceive in this world equals
the power of your intense fragility: whose texture
compels me with the colour of its countries,
rendering death and forever with each breathing

(i do not know what it is about you that closes
and opens; only something in me understands
the voice of your eyes is deeper than all roses)
nobody, not even the rain, has such small hands

e.e. cummings

(October 14, 1894 – September 3, 1962), popularly known as E. E. Cummings, with the abbreviated form of his name often written by others in lowercase letters as ee cummings (in the style of some of his poems), was an American poet, painter, essayist, author, and playwright. His body of work encompasses approximately 2,900 poems, two autobiographical novels, four plays and several essays, as well as numerous drawings and paintings.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

CUIDADO, Ó NUVENS!


Ó nuvens brancas! que passais voando
como crinas de aligeros corcéis,
ides alegres sem saberdes quando
ou mesmo se algum dia voltareis.


Tal como ides assim, claras, brilhando,
soltei ao vento os sonhos meus fieis.
Do alto, porem, caíram se esfolhando
como em prantos de chuva esfolhareis.


Cuidado! ó nuvens! esses ventos leves
logo serão revoltas ventanias,
mãos crispadas em feias contorções.


Em mãos iguais meus sonhos foram breves,
desfizeram-se as minhas alegrias
e o perfume das minhas ilusões.



Alfredo Cumplido de Sant' Anna
In: Poemas e Legendas

segunda-feira, 19 de abril de 2010

VOZES


Grita o vento nos muros da noite
como reflexos de espelhos partidos.


Há um ruído de coisas magoadas
lembrando madrugadas enfermas.


O vento e o ruído acelerando cadencias
são como garças
em tardes eróticas.


Só as luzes se repetem.
Só os sons se beijam
em baladas insanas.


Há pegadas escondidas
entre alamedas tranqüilas
enquanto
o tédio, a busca e a lassidão
ainda se aninham.



Alvina Nunes Tzovenos
In: Palavras ao Tempo

sexta-feira, 16 de abril de 2010

quinta-feira, 15 de abril de 2010

quarta-feira, 14 de abril de 2010

XX

(Rudolf Nureyev)


Estou sentado sobre a minha mala
No velho bergantim desmantelado...
Quanto tempo, meu Deus, malbaratado
Em tanta inútil, misteriosa escala!

Joguei a minha bússola quebrada
Às águas fundas... E afinal sem norte,
Como o velho Sindbad de alma cansada
Eu nada mais desejo, nem a morte...

Delícia de ficar deitado ao fundo
Do barco, a vos olhar, velas paradas!
Se em toda parte é sempre o Fim do Mundo

Pra que partir? Sempre se chega, enfim...
Pra que seguir empós das alvoradas
Se, por si mesmas, elas vêm a mim?


Mário Quintana
in Rua dos Cataventos

MOMENTO


Oh! A resignação das coisas paradas,
grávidas de silencio, reverentes,
em sua geometria sem jactância!


A placidez das ruas acolchoadas
contra a dura cintilação do dia;
o recato das arvores, a prece
das esquadrias de alumínio ionizado
na fachada do edifício em frente!


Todas as coisas – em clausura – cumprem votos,
enquanto a vã filosofia do século
pensa que move o mundo.

Rio, 9/9/87



Hélio Pellegrino
In: Minérios Domados

terça-feira, 13 de abril de 2010

Joga todo o teu ser na breve idéia

(Pablo Picasso)

Joga todo o teu ser na breve idéia
que incerta entre o corrente te procura
pra lá do que banal te prende e enleia
e pelo destacá-la emerge pura.

Fazê-lo é dar-lhe já o que perdura.
Porque a banalidade que a medeia
como à pedra vulgar por entre a areia
esquece o que em tomá-la a rareia.

Ser homem é escolher o que o oriente
e ser-lhe o mais a margem que lhe mente.


Vergílio Ferreira,
in 'Conta-Corrente 1'

domingo, 11 de abril de 2010

Fragmento Noturno


O nevoeiro desce lentamente a colina
E conforme subo mais se adensa:
Fecha-se à minha volta, apodera-se de mim
Como lençóis caídos sobre o chão.

Aqui ficam as últimas e ascendentes ruas,
Galerias, que correm pelas veias do tempo,
Quase familiares, onde rastejo em direção ao sono
Como nevoeiro e pelo nevoeiro como sono.


Thom Gunn
in:A Destruição do Nada e outros poemas
Tradução de Maria de Lourdes Guimarães
(England-1929- US-2004)

sexta-feira, 9 de abril de 2010

4


No resto do mundo
um murmúrio geral vai crescendo no escuro.
E a noite parece um ladrão a esgueirar-se
sobre os nossos muros.
Limpamos, então, lentos e calados,
nossos retratos no tempo pendurados.
E pensamos no dia em que chegar
o adeus.
Oh, o adeus, essa palavra sagrada
que guardará no infinito
a inutilidade de nosso pobre grito.


Artur Eduardo Benevides
In: Elegia Setenta e Outros Poemas

quarta-feira, 7 de abril de 2010

LUZ PROVISÓRIA


Vejo a chuva que cai, e me dispensa
de vê-la cair. Também meu corpo me dispensa
de vê-lo, em sua queda: chuva breve
que escorre, sobre as rugas do tempo.

Sou uma luz provisória, prometida
à chuva que cai, ao rigor
da pedra e do vento, à escuridão
que não se apaga mais.


Rio, 23/1/84


Hélio Pellegrino
in Minérios Domados

terça-feira, 6 de abril de 2010

Morte silenciosa


A noite cedeu-nos o instinto
para o fundo de nós
imigrou a ave a inquietação

Serve-nos a vida
mas não nos chega:
somos resina
de um tronco golpeado
para a luz nos abrimos
nos lábios
dessa incurável ferida

Na suprema felicidade
existe uma morte silenciada


Mia Couto
(Moçambique- 1955)