À frente a lua, atrás os sonhos,
qual a distância a percorrer?
Não a suspeitam nossos olhos:
a bruma sobe das estradas
e desorienta homens e bússolas.
Mesmo que voássemos bem alto,
e os céus se abrissem para nós,
nem mesmo assim divisaríamos
os frutos rubros que buscamos
pelos pomares das estrelas.
Como condores, fronte a pino,
cortando os ares meio tontos,
em vez de dar com o rumo certo
cairíamos na terra cega,
ruiríamos no mar opaco.
Este é o castigo que nos deram:
imaginar com vista ousada,
porém achar grossas neblinas
fechando o mundo que buscamos
por tê-lo visto em pensamento.
E assim deixamos para trás
os sonhos, deuses compassivos:
sem os podermos contemplar
olhamos como um branco enigma
- nevoentos, zonzos os caminhos –
somente a lua à nossa frente.
Péricles Eugênio da Silva Ramos
in 'A Noite da Memória'
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