domingo, 17 de novembro de 2013
''Nada existe''
Nada existe do outro lado do mar,
a não ser o azul que sonhamos,
as parreiras densas de algum vinho,
havido nos barris do sonho
e envelhecido na resina espessa
que em nós ensina a solidão.
Ah, coração, solta teus fantasmas,
o que dorme no silêncio mas vibra
antigas cinzas, vidros, espelhos,
paisagens esquecidas, retratos.
Ah, coração, transporta a acidez,
do verão, os utensílios diários da insônia,
o que me silencia os nervos
e arde neste vento de dezembro,
violino enlouquecido.
Nada existe do outro lado do mar
que não sejam velhas cartas,
poemas interminados,
o silêncio das palavras.
Nada existe do outro lado da vida,
animal exposto a visitação pública.
Passageira como nós, que não vai ao mar,
e morre em ais pelos caminhos.
Luiz de Miranda.
[Tela de Dima Dmitriev]
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