quarta-feira, 7 de dezembro de 2011
CRISTAL
O tempo de viver tem seu cristal intato,
limpo de toda névoa e de tudo o que é forma
mesmo precária e vã de existir e sonhar.
Que relógio de sol lhe marca a intensidade,
o íntimo viver da contínua linguagem?
Que dia se abrirá como dourada lâmina
no obscuro girassol do amor nas madrugadas?
Mesmo que tudo apague ou dilua no pranto
a presença da morte, e a noite só convoque
a seu largo silêncio inadiável, como
gritar,gritar que há sempre um outro renascer,
uma esperança além nos desígnios da vida?
Que sombra permanece a não ser esta angústia,
esta tranqüilidade em que as coisas se deixam
conduzir, como um rio à procura de um mar?
Que sonho restará senão o desespero
de riscar com carvão este breve cristal?
Gilberto Mendonça Teles
In Sintaxe Invisível
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