quarta-feira, 7 de dezembro de 2011
AMORES
III
Não traçarei novos caminhos.
Entrelaçados, nascemos de raízes
mais fundas que saber.
És o que virá, se vieres.
E eu espero. Véspera da morte,
agora que o amor é mudo ou canta sem parar.
E o canto um silêncio parece
de tão fundo viver, que a vida já se despe
de si mesma, e avança sem andar:
bem longe
ou perto
aberto dom
de
amar.
IV
Não o que dizíamos
nem o que víamos,
mas o olhar desviado,
taça em demasia. E o que insistia:
os mesmos pórticos, a hora
na torre austera. E tudo fazíamos
para não ouvir, calado,
o passo do passado
e não olhar, à janela cega,
um vulto debruçado
o olhar isento
do amor que não se vê
e, em fuga, se extravia.
Dora Ferreira da Silva
Uma Via De Ver As Coisas
São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1973. 124 p.
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