sábado, 20 de abril de 2013
"Entre as árvores"
Aqui eu sinto a Vida em ímpetos sonoros
devassando-me a luz de seus grandes arcanos
e esta seiva febril me infiltra pelos poros
o sangue matinal de meus primeiros anos.
Fascina-me o verdor primaveril das plantas;
não sei que magnetismo oculto as ervas têm,
que eu julgo, ó Natureza, em tuas pomas santas
beber tragos de luz e néctares do Bem.
[...]
Num turbilhão sonoro, as aves de mil cores
enchem a imensidão de límpidas risadas,
enquanto Flora anseia em convulsões de flores
na nítida beleza azul das alvoradas.
[...]
Como um cactus ao sol, minha alma desabrocha,
e os perfumes do canto entorno, afrouxo, no ar...
Depois, escuto o vento, e fito a árida rocha
e as aves sobre mim que passam a cantar.
O azul do espaço desce em gotas cintilantes
o seio a fecundar das trêmulas boninas,
e, numa inundação de vagas de brilhantes,
a luz serena banha as longínquas campinas.
[...]
Na natureza. a alma harmônica das coisas,
complexa, se derrama em formas multicolores,
ora na robustez das árvores frondosas,
ora na muda voz colorida das flores.
Em teu seio, é Floresta, onde o Belo descansa,
ao rebentar da Vida a torrente sonora,
ouço dentro de mim o canto da Esperança,
como um clarim vibrante ao despontar da aurora.
Augusto de Lima
in Poesias (Excertos escolhidos por mim)
(1859-1934)
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