quarta-feira, 23 de maio de 2012
'O CISNE'
Calmo, do espelho azul d’água profunda e calma
à face errando, os pés, lânguido, o cisne espalma
E desliza. Da neve os raros flocos brancos
Lembra o fino frouxel que lhe amacia os flancos;
Línea vela parece a asa que encurva e brande,
Esbelto, e ora retrai, ora sacode e expande;
Entre as ninféias indo, o alvo pescoço apruma,
Colhe-o após, some-o n’água, estende-o sobre a espuma,
Curva-o mole e gracioso, e ânfora antiga imita.
Dos pinheiros ao longo, onde o silêncio habita
E a paz e a sombra, vai; rastejando na esteira,
Que atrás fica, semelha intensa cabeleira
A basta ervagem fresca a palpitar. A gruta,
Que a alma atrai do poeta e a voz da tarde escuta,
Praz-lhe e a fonte que além flui, regurgita e bolha.
Vendo-as, lento se arrasta. às vezes numa folha
Leve cai do salgueiro e, em sua queda, leve,
Roça-lhe, muda sombra, as plumas cor de neve.
Caminha agora ao largo; o implexo da ramagem
Deixa e a parte procura onde o esplendor selvagem
Diz melhor com o brilhar d’água anilada e pura.
Do lado é a parte mais azul que ele procura;
E lá vai... a cismar sobre as ondas serenas,
Entrega à luz do sol a brancura das penas.
Depois, quando, em redor, se confundem, caindo
A noite, do amplo lago as margens, e no infinito
Horizonte há somente um ponto avermelhado;
Quando tudo quedou, quando no ilimitado
Do céu paira da lua o globo enorme e albente;
Quando acende o lampiro a luz fosforescente,
E nem o menor sopro o débil junco embala:
O cisne, sob o olhar dessa noite de opala,
Em seu lago sombrio, enfim, descansa; e, acaso
Visto de alguém, assim, lembra de prata um vaso...
Põe sob a asa a cabeça, os olhos sonolentos
Fecha, e dorme, feliz, entre dois firmamentos.
Sully Prudhomme
(Trad. de Alberto de Oliveira)
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
René Armand François Prudhomme, mais conhecido como Sully Prudhomme (Paris, 16 de Março de 1839 — Châtenay-Malabry, 6 de Setembro de 1907), foi um poeta francês.
Filho de Sully Prudhomme, comerciante, e de Clotilde Caillat, ingressou num instituto politécnico para estudar na área científica. No entanto, devido a uma doença oftalmológica, teve que desistir desse objectivo. Trabalhou numa fábrica, como escriturário, mas, descontente, decidiu estudar direito, em 1860.
Em 1865, publica a sua primeira obra poética, Stances et Poèmes.
Pertence ao grupo de poetas parnasianos, responsáveis pela publicação da revista Parnasse contemporain.
Foi eleito para a Academia Francesa em 1881, ocupando a cadeira 24.
Foi o primeiro autor a receber o Nobel de Literatura, no dia 10 de dezembro de 1901.
Sully Prudhomme morreu em Châtenay-Malabry, França, em 6 de setembro de 1907, e foi sepultado no Cemitério do Père-Lachaise, em Paris.
à face errando, os pés, lânguido, o cisne espalma
E desliza. Da neve os raros flocos brancos
Lembra o fino frouxel que lhe amacia os flancos;
Línea vela parece a asa que encurva e brande,
Esbelto, e ora retrai, ora sacode e expande;
Entre as ninféias indo, o alvo pescoço apruma,
Colhe-o após, some-o n’água, estende-o sobre a espuma,
Curva-o mole e gracioso, e ânfora antiga imita.
Dos pinheiros ao longo, onde o silêncio habita
E a paz e a sombra, vai; rastejando na esteira,
Que atrás fica, semelha intensa cabeleira
A basta ervagem fresca a palpitar. A gruta,
Que a alma atrai do poeta e a voz da tarde escuta,
Praz-lhe e a fonte que além flui, regurgita e bolha.
Vendo-as, lento se arrasta. às vezes numa folha
Leve cai do salgueiro e, em sua queda, leve,
Roça-lhe, muda sombra, as plumas cor de neve.
Caminha agora ao largo; o implexo da ramagem
Deixa e a parte procura onde o esplendor selvagem
Diz melhor com o brilhar d’água anilada e pura.
Do lado é a parte mais azul que ele procura;
E lá vai... a cismar sobre as ondas serenas,
Entrega à luz do sol a brancura das penas.
Depois, quando, em redor, se confundem, caindo
A noite, do amplo lago as margens, e no infinito
Horizonte há somente um ponto avermelhado;
Quando tudo quedou, quando no ilimitado
Do céu paira da lua o globo enorme e albente;
Quando acende o lampiro a luz fosforescente,
E nem o menor sopro o débil junco embala:
O cisne, sob o olhar dessa noite de opala,
Em seu lago sombrio, enfim, descansa; e, acaso
Visto de alguém, assim, lembra de prata um vaso...
Põe sob a asa a cabeça, os olhos sonolentos
Fecha, e dorme, feliz, entre dois firmamentos.
Sully Prudhomme
(Trad. de Alberto de Oliveira)
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
René Armand François Prudhomme, mais conhecido como Sully Prudhomme (Paris, 16 de Março de 1839 — Châtenay-Malabry, 6 de Setembro de 1907), foi um poeta francês.
Filho de Sully Prudhomme, comerciante, e de Clotilde Caillat, ingressou num instituto politécnico para estudar na área científica. No entanto, devido a uma doença oftalmológica, teve que desistir desse objectivo. Trabalhou numa fábrica, como escriturário, mas, descontente, decidiu estudar direito, em 1860.
Em 1865, publica a sua primeira obra poética, Stances et Poèmes.
Pertence ao grupo de poetas parnasianos, responsáveis pela publicação da revista Parnasse contemporain.
Foi eleito para a Academia Francesa em 1881, ocupando a cadeira 24.
Foi o primeiro autor a receber o Nobel de Literatura, no dia 10 de dezembro de 1901.
Sully Prudhomme morreu em Châtenay-Malabry, França, em 6 de setembro de 1907, e foi sepultado no Cemitério do Père-Lachaise, em Paris.
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