Não é a lua, não, é um mostrador.
Que culpa tenho se as estrelas baças
Me parecem leitosas, sem fulgor?
Batiúshkov não merece piedade.
"Que horas são?", perguntaram-lhe uma vez,
E ele só respondeu: "Eternidade."
Ossip Mandelstam
in "Não é a lua"
Trad. de Augusto de Campos.
CAMPOS, Augusto. Poesia da recusa. São Paulo: Perspectiva, 2006.
*Óssip Mandelstam nasceu em Varsóvia, Polónia, em 1891, descendente de uma família judia. Cresceu na cidade imperial de S. Petersburgo, onde frequentou a prestigiada escola Tenishev, seguindo mais tarde para Paris (1907-08) e para Heidelberg (1909-10) com intenção de estudar Literatura Francesa. A partir de 1911 estudou Filosofia na Universidade de S. Petersburgo, curso que abandonou para se dedicar à escrita. Publicou o seu primeiro livro, Kamen (Pedra) em 1913. Embora tivesse inicialmente apoiado a Revolução, a censura sobre os artistas e a execução de Gumilev, em 1921, afastaram Mandelstam do regime. Este afastamento obrigou-o a viajar para províncias distantes como jornalista. Em 1933 Mandelstam escreveu um poema satírico sobre Estaline. A «insolência» só não lhe trouxe a pena de morte devido à protecção de Bukárine. Mas no ano seguinte, Mandelstam foi preso e viveu alguns anos exilado, em companhia de sua mulher Nadyeshda. Regressaram a Moscovo no início de 1938. A 2 de Agosto Mandelstam foi condenado a cinco anos de trabalhos forçados. O último perído da sua vida é mal conhecido. Sabe-se que esteve na prisão de Butyrskaya em Moscovo à espera de seguir para Kolyma, na Sibéria. Terá morrido a 20 de Dezembro, na barraca n.º 11 do campo de trânsito 3/10 de Usvitlag, entre os presos acusados de «actividades contra-revolucionárias.»
(Excerto da nota biográfica contida em Fogo Errante – antologia poética, tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra, Relógio D’Água, Julho de 2001.)
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