domingo, 29 de agosto de 2010
Um Minuto na Noite
A cidade dorme
o sono da madrugada.
Nenhum ser vivo
àquela hora silente.
O mundo noturno
cala-se...
Bares cerrados.
Apenas luminárias
com propagandas
de refrigerantes
permanecem despertas,
exibindo letras vermelhas
e grandes.
A cidade está
só,
com os sentimentos
da noite.
Delores Pires
in A Estrela e a Busca
Haicai do mestre Delores
Entre vagens secas
os cachos de chuvas-de-ouro.
Voa a mamangaba.
Delores Pires
Pétalas de Ipê (2002)
Delores Pires nasceu na cidade de Criciúma, Estado de Santa Catarina, radicando-se desde menino no interior do Paraná.
O contato com a natureza no ambiente rural, na adolescência, propiciou-lhe os subsídios e a influência na adoção da forma haicai que viria a praticar mais tarde.
Adotou Curitiba como sua cidade, onde se formou em Letras pela Universidade Católica do Paraná. Como tal, é professor de língua portuguesa e de literaturas afins.
Realizou o curso de Mestrado em Letras, com área de concentração em Teoria da Literatura, também pela Universidade Católica do Paraná, apresentando a dissertação O Universo do Haicai.
O contato com a natureza no ambiente rural, na adolescência, propiciou-lhe os subsídios e a influência na adoção da forma haicai que viria a praticar mais tarde.
Adotou Curitiba como sua cidade, onde se formou em Letras pela Universidade Católica do Paraná. Como tal, é professor de língua portuguesa e de literaturas afins.
Realizou o curso de Mestrado em Letras, com área de concentração em Teoria da Literatura, também pela Universidade Católica do Paraná, apresentando a dissertação O Universo do Haicai.
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
"Roubar-me os mares..."
Não é a lua
Não é a lua, não, é um mostrador.
Que culpa tenho se as estrelas baças
Me parecem leitosas, sem fulgor?
Batiúshkov não merece piedade.
"Que horas são?", perguntaram-lhe uma vez,
E ele só respondeu: "Eternidade."
Ossip Mandelstam
in "Não é a lua"
Trad. de Augusto de Campos.
CAMPOS, Augusto. Poesia da recusa. São Paulo: Perspectiva, 2006.
Que culpa tenho se as estrelas baças
Me parecem leitosas, sem fulgor?
Batiúshkov não merece piedade.
"Que horas são?", perguntaram-lhe uma vez,
E ele só respondeu: "Eternidade."
Ossip Mandelstam
in "Não é a lua"
Trad. de Augusto de Campos.
CAMPOS, Augusto. Poesia da recusa. São Paulo: Perspectiva, 2006.
*Óssip Mandelstam nasceu em Varsóvia, Polónia, em 1891, descendente de uma família judia. Cresceu na cidade imperial de S. Petersburgo, onde frequentou a prestigiada escola Tenishev, seguindo mais tarde para Paris (1907-08) e para Heidelberg (1909-10) com intenção de estudar Literatura Francesa. A partir de 1911 estudou Filosofia na Universidade de S. Petersburgo, curso que abandonou para se dedicar à escrita. Publicou o seu primeiro livro, Kamen (Pedra) em 1913. Embora tivesse inicialmente apoiado a Revolução, a censura sobre os artistas e a execução de Gumilev, em 1921, afastaram Mandelstam do regime. Este afastamento obrigou-o a viajar para províncias distantes como jornalista. Em 1933 Mandelstam escreveu um poema satírico sobre Estaline. A «insolência» só não lhe trouxe a pena de morte devido à protecção de Bukárine. Mas no ano seguinte, Mandelstam foi preso e viveu alguns anos exilado, em companhia de sua mulher Nadyeshda. Regressaram a Moscovo no início de 1938. A 2 de Agosto Mandelstam foi condenado a cinco anos de trabalhos forçados. O último perído da sua vida é mal conhecido. Sabe-se que esteve na prisão de Butyrskaya em Moscovo à espera de seguir para Kolyma, na Sibéria. Terá morrido a 20 de Dezembro, na barraca n.º 11 do campo de trânsito 3/10 de Usvitlag, entre os presos acusados de «actividades contra-revolucionárias.»
(Excerto da nota biográfica contida em Fogo Errante – antologia poética, tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra, Relógio D’Água, Julho de 2001.)
(Excerto da nota biográfica contida em Fogo Errante – antologia poética, tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra, Relógio D’Água, Julho de 2001.)
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
Do meio dia à eternidade
Eu percorro por estas ruas tão vazias,
olhando-me através desses transeuntes,
predizendo-me entre essa paisagem,
com meu olhar do meio dia à eternidade.
Vazio nestes instantes que divago,
percebo-me como ave necessária,
seja por entre as árvores plumárias,
dilúvio cotidiano pela estrada.
O mar apoderava o desespero,
floresta dos rebanhos brios difíceis,
então as águas eram superfície!
As corridas das ondas entre ventos,
estuário dessa alma tão longínqua,
do jovem rio estava ali nas fontes.
Eric Ponty
olhando-me através desses transeuntes,
predizendo-me entre essa paisagem,
com meu olhar do meio dia à eternidade.
Vazio nestes instantes que divago,
percebo-me como ave necessária,
seja por entre as árvores plumárias,
dilúvio cotidiano pela estrada.
O mar apoderava o desespero,
floresta dos rebanhos brios difíceis,
então as águas eram superfície!
As corridas das ondas entre ventos,
estuário dessa alma tão longínqua,
do jovem rio estava ali nas fontes.
Eric Ponty
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
'INSÔNIA'
É silencio na calçada.
A noite avança
e os meus olhos
cansados,
amigos das madrugadas,
buscam memórias
veladas.
Tristonha
debato-me no leito
qual ave ferida no peito.
Não vejo o que sinto
mas
sinto tudo o que vejo.
Alvina Tzovenos
In Sonhos e Vivências
A noite avança
e os meus olhos
cansados,
amigos das madrugadas,
buscam memórias
veladas.
Tristonha
debato-me no leito
qual ave ferida no peito.
Não vejo o que sinto
mas
sinto tudo o que vejo.
Alvina Tzovenos
In Sonhos e Vivências
(Poetisa, professora e artista plástica de Porto-Alegre RS,
nascida em 1.929)
nascida em 1.929)
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
ADEUS'
Adeus, fugitiva, enfuna
livre asa prá fuga e voo -
impenetrável a runa
que o teu nome encerrou.
Tenho de ir andando,
volto a meus jardins soturnos,
ouço já cisnes cantando
do canavial dos mares noturnos.
Adeus, dono da tristeza,
da tortura e do chorar,
perdido - a profundeza,
mais longe, a pôr e tirar.
Gottfried Benn
Trad.:Vasco Graça Moura
livre asa prá fuga e voo -
impenetrável a runa
que o teu nome encerrou.
Tenho de ir andando,
volto a meus jardins soturnos,
ouço já cisnes cantando
do canavial dos mares noturnos.
Adeus, dono da tristeza,
da tortura e do chorar,
perdido - a profundeza,
mais longe, a pôr e tirar.
Gottfried Benn
Trad.:Vasco Graça Moura
domingo, 15 de agosto de 2010
Para aprender a voar
O coração não tem margens
sábado, 14 de agosto de 2010
Rouxinol dos cantos esquecidos
...somente o coração de um Rouxinol
pode avermelhar o coração de rosa.
Oscar Wilde.
Entre os campos embevecidos,
E ao longe, dias não vividos:
Onde a paz entre os humanos
Não ecoa ao passar dos anos.
Nestes tempos incompreensíveis
Nos vales dos sonhos impossíveis,
Entre falésias entorpecidas:
Esperanças desaparecidas.
Preenchendo este vasto vazio
Como se fosse nosso martírio
De desejar aquilo ao longe:
Como sendo solitário monge.
Vem o mistério do infinito:
Renascer no nosso espírito,
De emoções do indefinível
- Momento nosso indissolvível.
Luís Antônio Rossetto de Oliveira
(Marília- São Paulo)
pode avermelhar o coração de rosa.
Oscar Wilde.
Entre os campos embevecidos,
E ao longe, dias não vividos:
Onde a paz entre os humanos
Não ecoa ao passar dos anos.
Nestes tempos incompreensíveis
Nos vales dos sonhos impossíveis,
Entre falésias entorpecidas:
Esperanças desaparecidas.
Preenchendo este vasto vazio
Como se fosse nosso martírio
De desejar aquilo ao longe:
Como sendo solitário monge.
Vem o mistério do infinito:
Renascer no nosso espírito,
De emoções do indefinível
- Momento nosso indissolvível.
Luís Antônio Rossetto de Oliveira
(Marília- São Paulo)
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Luís Antônio Rossetto de Oliveira
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
MOVIMENTOS
"Anzol"
F .Campanella
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
“Nestling”
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
Variação
domingo, 8 de agosto de 2010
SOLIDÃO
Que ninguém me conspurque este momento
de estar comigo
e me deixe intata a solidão.
que ninguém venha
na hora de não vir — e vindo
me deixe desolar.
que ninguém me conspurque a solidão
e me deixe crestar
ao reflexo e na massa intata
da lava dessa hora de mim mesmo
a consumir-se inteiro.
Vitória, agosto de 1968
Álvaro Pacheco
(28 de novembro de 1933-Piauí)
de estar comigo
e me deixe intata a solidão.
que ninguém venha
na hora de não vir — e vindo
me deixe desolar.
que ninguém me conspurque a solidão
e me deixe crestar
ao reflexo e na massa intata
da lava dessa hora de mim mesmo
a consumir-se inteiro.
Vitória, agosto de 1968
Álvaro Pacheco
(28 de novembro de 1933-Piauí)
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
'VAZIO'
'Sinos que dobram'
Os sinos dobram
pela falta de um olhar,
ancorado nas incertezas
da efêmera existência
Tocam chamando à fé,
pela partida da missão cumprida,
na calmaria anunciada,
do tempo que solta suas ventanias
São sons que falam do vazio
presente em cada alma,
como o acordar da vida,
uma saudade incontida
em cada um de nós
Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 03/08/10
Código do Texto: T2416248
pela falta de um olhar,
ancorado nas incertezas
da efêmera existência
Tocam chamando à fé,
pela partida da missão cumprida,
na calmaria anunciada,
do tempo que solta suas ventanias
São sons que falam do vazio
presente em cada alma,
como o acordar da vida,
uma saudade incontida
em cada um de nós
Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 03/08/10
Código do Texto: T2416248
Mar de solidão
Aceito a solidão
da partida dos meus encantos,
na cadência monótona dos meus passos
anunciando auroras salpicadas
de orvalhos amargos das manhãs
Ventos errôneos das tardes,
regressam com roupagem cinza outonal,
sem semear fantasias,
convertendo a alma em ocasos
debruçados em seus tons de melodia
Ando sem pressa, sem lembranças
apenas o coração espera
entre o resto e o nada
de viagens profundas
nos desertos por onde passo.
Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 04/08/10
Código do Texto: T2417359
da partida dos meus encantos,
na cadência monótona dos meus passos
anunciando auroras salpicadas
de orvalhos amargos das manhãs
Ventos errôneos das tardes,
regressam com roupagem cinza outonal,
sem semear fantasias,
convertendo a alma em ocasos
debruçados em seus tons de melodia
Ando sem pressa, sem lembranças
apenas o coração espera
entre o resto e o nada
de viagens profundas
nos desertos por onde passo.
Conceição Bentes
Publicado no Recanto das Letras em 04/08/10
Código do Texto: T2417359
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
VIII
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