segunda-feira, 24 de novembro de 2008
'PERPLEXIDADE II'
(Red Fort in Delhi, India)
Que imperceptível clamor rói as muralhas do tempo?
Quem nos impõe essa expectativa diante do dia que não chega,
essa efusão diante da inércia e da indiferença das coisas,
essa ternura pelo que não se confia,
essa ternura pelo que nunca será senão um breve relâmpago
no fundo dos olhos indormidos?
Por que, nessa viagem através do que resiste,
em torno das fortalezas impenetráveis
onde para sempre resta adormecida a grande resposta,
por que não se revela o que apenas escutamos
como suspiro de vento,
leve suspiro de aragem?
Por que permitem que contornemos as montanhas solitárias
que se erguem dentro de nós, trágicas e altas,
como um silencioso apelo inexorável?
Por que as coisas se conservam assim, esfíngicas e hirtas,
se nelas pressentimos palpitar
o sentido de nossa própria solidão?
Alphonsus de Guimaraens Filho
in: 'Só a noite é que amanhece'
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