domingo, 12 de janeiro de 2014
''O SÍMBOLO DE TODA A NOSSA VIDA''
Há noites que deveriam ser a vida.
Intensas longas noites irreais
com o sabor amargo do efémero
e o sabor venenoso do pecado
como se fôssemos mais jovens
e ainda nos fosse permitido desbaratar
virtude, dinheiro e tempo impunemente.
Deveriam ser a vida,
o símbolo de toda a nossa vida,
a memória dourada da juventude.
E, como o despertar repentino de uma velha paixão,
que de novo voltassem aquelas noites
para ferir-nos de inveja
de tudo quanto fomos e vivemos
e ainda nos tenta
com a sua insolência.
Porque deviam ser a vida.
E foram-no talvez, já que a recordação
as salva e lhes concede o privilégio de fundir-se
numa única noite triunfal,
inolvidável, aquela em que o mundo
parecesse ter posto
suas apelativas galas tentadoras
aos pés da nossa altiva adolescência.
Longa noite gentil, noite de neve,
que a memória te conserve como uma gema cálida,
com brilho de estrelinhas de verbena,
no céu apagado em que flutuam
os anjos mortos, os desejos adolescentes.
Felipe Benítez Reyes
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