sexta-feira, 30 de setembro de 2011
AVARENTAMENTE
Avarentamente
a vida nega, a vida
se retrai, se esquiva.
Quem pudera em frente
ver a luz perdida
onde, em recidiva,
tudo se renova
para novamente
murchecer, cair
no que a vida prova
ser o que há de vir,
mas sustém-se ausente.
A luz nunca tida...
Nunca tido encanto...
Avarentamente
se retrai a vida
prometendo tanto
lá bem longe, em frente,
que no ser cansado
de uma espera aflita
há um sol frustrado,
uma luz que grita,
um doer pungente,
infinitamente...
Alphonus de Guimaraens Filho
In: O tecelão do Assombro
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Alphonsus de Guimaraes Filho
quarta-feira, 28 de setembro de 2011
Feliz Ano-Novo Judaico,Shaná Tová 5772 -שנה טובה
Um sorriso se faz
olha lá os passos de luz vindo
te abraçar feito azul,
na tua estrada,
tua história,
tua memória,
teu coração.
Bem Vindo
doce abraço
aromas de mel
e maçã.
e o que passou deixa ir
feliz ou não.
Vai nascer um big bang
momento virgem
sair do mar
o sol
a vida
o alimento,
na alma
uma estrela
brilhando
ano novo
chegando.
Aharon
מל
חיוך גורם
נראה במורד המדרגות של אור מגיע
אני מחבק אותך כמו האור,
הדרך שלך,
הסיפור שלך,
הזיכרון שלך,
הלב שלך.
רצוי
מתוקה חיבוק
ארומות של דבש
וגם תפוח.
ומה להרפות עכשיו
מאושר או לא.
ייוולד המפץ הגדול
בתולה רגע
מן הים
השמש
חיים
אוכל,
נשמה
כוכב
מבריק
ראש השנה
הקרובים.
אהרון
—
honey
A smile makes
looks down the steps of light coming
hold you done blue
in your road
your story,
your memory,
your heart.
Welcome
sweet embrace
flavor of honey
and apple.
what happened and let it go
happy or not.
Will be born a big bang
moment virgin
out of the sea
the sun
life
food,
soul
a star
shining
new Year
coming.
Aharon
terça-feira, 27 de setembro de 2011
Prece
dá-me a lucidez das
correntezas para que eu descubra
entre as tristezas que se
avolumam algum
sorriso mesmo
que não seja para mim
dá-me a serenidade de uma
estrela para que eu imagine
entre as lágrimas que não
me deixam qualquer
paz ainda
que breve
dá-me a claridade das
luas cheias para que eu invente
entre as angústias que se
esparramam um
horizonte mesmo
que se transmude em ilusão
dá-me a esperança das
árvores para que eu teça
entre as ausências que se
imensificam uma sanidade ainda
que estofada de
delírios
Adair Carvalhais Júnior
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Adair Carvalhais Jùnior
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
FUNERAL COTIDIANO
são 24
as covas
que cavo
no solo de sal
& ossos
do quarto
e sobre cada
cadáver meu
que deponho
ergo a lápide
de um sonho
Adriano Wintter
ANTOLOGIA
(Paint, 'Skrik' by Edvard Munch)
assim como espera
da flor
a esfera
triunfal do fruto
o mundo empurra
o eu
do poeta
para
o abismo
e vós
que mordeis
a polpa
macia
nem mesmo
sabeis
que o verso
é um compêndio
de quedas e gritos
Adriano Wintter
(Porto Alegre - RS )
sábado, 24 de setembro de 2011
'Outono'
Alheia à continuidade das manhãs
fixo um encontro comigo
para a hora em que a terra se deixa amar sem cólera.
Tudo converge no sombreado das árvores
chorando as folhas.
Sento-me na esplanada dos prodígios
e abro um bloco pautado
para fixar a voz daqueles que ninguém ouve.
Ao mesmo tempo, apanho do chão
as memórias desta cidade
onde todos os sinais de vida
se conjugam com o verbo esperar
e todos os odores são uma mistura de fumo,
de fadiga, de suor e de solidão.
Tudo se passa, simultaneamente,
como uma despedida e um reencontro.
Graça Pires
-Portugal-
Livro dos Desejos
Não consigo superar as colinas
O sistema foi abaixo
Vivo de comprimidos
Coisa que agradeço a D--s
Segui o trajecto
Do caos à arte
Desejo o cavalo
Depressão a carruagem
Naveguei como um cisne
Afundei-me como uma rocha
Mas o tempo passou há muito
Pelas minhas reservas de riso
A minha página era demasiado
branca
A minha tinta era demasiado fina
O dia não quis escrever
Aquilo que a noite rabiscara
O meu animal uiva
O meu anjo aborreceu-se
Mas não me é permitida
Uma réstia de remorso
Pois alguém há-de utilizar
Aquilo que eu não soube ser
O meu coração será dela
De uma forma impessoal
Ela pisará o caminho
Perceberá a minha intenção
A minha vontade partida em duas
E a liberdade pelo meio
Por menos de um segundo
As nossas vidas colidirão
O interminável suspenso
A porta de par em par
Então ela há-de nascer
Para alguém como tu
O que nunca ninguém fez
Ela continuará a fazer
Sei que ela vem aí
Sei que ela irá olhar
E esse é o desejo
E este é o livro
Leonard Cohen - Livro do Desejo
tradução de Vasco Gato
(Montreal, 21 de setembro de 1934) é um cantor, compositor, poeta e escritor canadense.
Embora seja mais conhecido por suas canções, que alcançaram notoriedade tanto em sua voz quanto na de outros intérpretes, Cohen passou a se dedicar à música apenas depois dos 30 anos, já consagrado como autor de romances e livros de poesia.
..........
Leonard Cohen nasceu em Montreal, província de Quebec, Canadá, de uma família judia de origem polonesa (polaca). A sua infância foi marcada pela morte de seu pai quando Cohen tinha apenas 9 anos, fato que seria determinante para o desenvolvimento de uma depressão que o acompanharia durante boa parte da vida.
Aos 17 anos, ingressa na Universidade McGill e forma um trio de música country. Paralelamente, passa a escrever seus primeiros poemas, inspirado por autores como García Lorca.
.........
Em 1994, consolidando a sua aproximação com o budismo, Cohen passa a viver no mosteiro de Mount Baldy Zen Center, próximo de Los Angeles. Em 1996, seria ordenado monge zen, e ganharia o nome Dharma de Jikan ("silencioso").
Nesse meio-tempo é lançado, em 1995, um outro disco-tributo, Tower of Songs, dessa vez com nomes mais conhecidos, como Elton John, Bono e Willie Nelson.
No mesmo ano é lançado o livro Dance Me to the End of Love, onde poesias suas são mescladas com pinturas do francês Henri Matisse.
Sua experiência no mosteiro iria até o ano de 1999, quando voltaria a morar em Los Angeles. Apesar disso, Cohen ainda se considera judeu, ressaltando que não procura "por uma nova religião".
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BALÉ ESPACIAL
Seremos eternos?
Sucessões
esféricas
no tempo.
Dentro de mim
não há
nada.
Dentro de mim,
o mundo.
Simples,
breve,
leve,
caminho sobre esferas
- degraus? -que me conduzem
ao extrato universal.
A leveza sutil
do planeta em rotação
eleva-se num balé essencial:
a dança fantástica de astros
improváveis.
Deus meu!
Quero navegar no rastro
de um astrolábio na segurança de seu passo,
dançarino encantado
do eterno suceder,
com a respiração mais elevada.
Sou de sempre,
miríades esféricas do instante.
Seremos eternos?
Onévio Zabot
In Arco de Pedra
Do blog de minha amiga Dione.
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
Arco-íris
A Pedro Nava
O coração se aperta.
Nem sabe se foi a lembrança de certo cair de tarde
que a memória subtraiu ao tempo, ou um reviver de luzes
entre horizonte e nada.
O coração se volta, há luzes ao longe, uma cidade aparece,
some-se, já é outra cidade.
Em qual delas habita e se redescobre o menino?
Em qual delas a vida se multiplica, as manhãs renascem,
os caminhos se desenvolvem num atlas inexistente e a imaginação arma
o seu mundo de mágicos? Em qual delas
a luz é luz, a sombra é sombra?
Não sabe.
Tantas coisas já se misturaram, ou se confundiram no tempo.
Algumas realmente vistas.
Outras apenas sonhadas, ou imaginadas. E como agora todas
a distancia se ordenam,
entrelaçam-se, formam,
fundidas, transfiguradas,
um só arco-íris!
Emílio Moura
In: Itinerário Poético
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
Olhar concebido
Disneylândia girando nos olhos distraídos
desbotando retratos, palavras expostas.
Fita embalada enfeita o mundo complexo.
(perfeito laço
com grandes lapsos)
Estante congestionada de livros lidos por olhos famintos.
Nada entendeu
repensou a modernidade
envenenada
reverso maldito somente
mal dito
pelo silencio em tributo.
Conversão de sonhos espalhados em alguma alma
(êxtase antigo)
entender é o machado decepando
prazeres.
Nada de novo nem por instantes, mas repare
ao menos em tudo
o florescimento constante das flores.
Montes, campos, concretos.
Farol de sementes
para canteiros certeiros
vento chora
naufrágio imaginário
no presente.
Corte rente....
Tudo pode estar oculto da razão
que sonha com a vastidão em palavras,
meras palavras criadas.
Correntes.
Nascente floral
mais que os olhos podem conceber.
Aharon
terça-feira, 20 de setembro de 2011
INICIAÇÃO
São as horas paradas
Cada uma do ano atalho
Em hera entrelaçadas
Cobertas de esplendido orvalho.
É a fala infantil
Que sua voz na flauta ensaia
A replica sutil
Coro de mata e vento e praia.
É a primeira pena
Pois o sonho em palavras mente
E a longe altiva rena
Confinada tomba demente.
É o inicial mosto
E saudade e só submissão
O Maldito indisposto
Que inspira comiseração.
É ainda na Camena
Que hesita pálida e se insurge
Com os seus sons acena
E assusta-se com o que surge...
Tal qual uva azedia
Que lenta perfuma e colora
Da folhagem sombria
Se alça a cotovia na aurora.
Stefan George
In: Crepúsculo
domingo, 18 de setembro de 2011
PRIMAVERA
Em crepusculares criptas
eu longamente sonhei
com teus ares azuis e árvores,
com teus perfumes e cantos de pássaros.
Agora toda te abres
em glorioso resplendor, assim
inundada de luz
como um prodígio diante de mim.
De novo me reconheces e com ternura me tentas:
vibra ao longo de todos os meus membros
tua alegre presença.
Hermann Hesse
in 'Andares'.
Recebido da amiga Dione Eller
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