segunda-feira, 4 de julho de 2011
LIVRO ABERTO
A rua é um livro aberto.
O olho minúsculo de um pássaro
é um livro aberto.
A porta fechada de um quarto
é um livro deserto.
Tenho escrito palavras
de muitos livros refeitos
que, surdos e quietos,
tecem límpidos e claros
os seus herméticos enredos.
Na rua leio o que soletro.
No minúsculo olho de um pássaro
não leio o que vejo,
embora pássaros e ruas
me ensinem o que percebo.
Me ensinam, por exemplo,
o desterro aberto e refeito
de todo livro relido,
se atrás da porta fechada,
refaço o seu silêncio desfeito,
releio o meu silêncio perdido.
Mário Chamie
(1933-2011)
Um dos poemas inéditos em livro que Mário Chamie preparava para editar e que foi publicado pelo "Estado" em dezembro do ano passado.
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Um comentário:
Bela e merecida homenagem, Mada. O poema é muito bonito, aliás, um poeta que eu não conhecia. Gosto de como ele coloca o livro, a literatura, como a verdadeira naturza do homem. Um forte abraço.
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