Dentro da tarde, de quando em quando,
há um ligeiro rumor de asa frágeis e lentas,
de asas que estão cansadas.
Por que será que aquelas asas me comovem?
Dentro da noite, de quando em quando,
esse mesmo rumor continua, lá fora,
rumor de asas que estão cansadas.
Por que será que aquelas asa me inquietam?
II
Alma, errante,
eu vi a sombra traiçoeira
descer, rápido, e cair pesadamente sobre as grandes arvores retorcidas.
Oh, o ruflar aflito das asas
mergulhadas na sombra.
Alma errante, alma errante:
eu ouvi o choro da terra.
O frio, o desesperado
choro da terra
- Oh, a voz milenária do vento
que ulula na sombra.
Alma errante:
tu não vês, não ouves?
É a grande sombra, há qualquer coisa na sombra.
- Oh, o ruflar aflito das asas
mergulhadas na sombra.
III
Nesta noite tão cheia de rumores vagos,
(o vento brame, lá fora, agita-se... Que terá o vento?)
como esta voz, cá dentro, é profética e triste.
Vento frio da noite,
vento inquieto da noite!
Pensar que todas as raízes serão arrancadas, algum dia,
E que então não haverá mais desejo sobre desejo,
Numa noite que será também cheia de rumores vagos.
Emílio Moura
In: Itinerário Poético
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