segunda-feira, 7 de janeiro de 2013
PALAVRAS AO VENTO
Talvez tivesse morrido de tédio em pleno azul da tarde
se não fosse o vento
vir subidamente e dizer
o que disse às suas orelhas pendidas.
Que logo não estavam pendidas: altas, escutavam
o vento,
um vento de setembro com qualquer coisa
dos janeiros limpos pelas chuvas
que jamais cessam de cintilar
na memória.
E o vento falou, depois enovelou-se no capim e dormiu.
Merecidamente, deve ter pensado o que o escutara
e, escutando-o, sentira novo gosto pela vida.
Foi o que concluí, olhando disfarçadamente o velho caçador
erguer-se e distanciar-se pelo campo verde,
soprado assim por um vento que todos nós gostaríamos
de ouvir,
agora jovem perdigueiro
indo-se como, digamos, um barco branco
de orelhas pandas,
leve e cada vez mais longínquo,
até se desfazer azul na tarde
azul.
Ruy Espinheira Filho
In Poemas Reunidos
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