surgiu o passado,
corpo intranquilo
feito de sons semelhantes
aos rostos que amei,
universo donde me excluí,
mar desprovido de cais
na obliquidade dos contrastes.
Esta noite voltei à minha infância:
menina rosada de sonhos nos bolsos,
bailarina de corda na caixinha de som.
À infância regressa-se solitariamente,
subindo um rio sem margens,
até ao lugar em que a nascente
se confunde com o tempo
e o tempo se transforma em espanto.
Procuro, teimosamente,
o rasto da brisa
que me invade o corpo
e apenas sei que o sonho
é um risco inquietante,
quando a solidão tem rosto
e se conhece a posição das estrelas
no âmago das palavras.
Reinicio a infância
no esboço do poema
e circunscrevo o litoral
fragmentado do que sou.
Quem foi que descodificou
o céu no meu olhar
e me deixou na alma
um deus imaginado?
Quando o espaço do sonho é circular
como o tempo das cerejas,
ou da migração dos pássaros
que fendem o infinito,
inadiado é o rito da poesia.
Se eu fosse uma gaivota, dançaria
na proa dos veleiros
até à hipnose
de abraçar a maresia.
Graça Pires
6 comentários:
Adorei o poema. Penso que muitos de nós nos revemos nele.
Comecei há pouco a seguir o blog de Graça Pires, mas já deu para ver que tem poemas muito interessantes, assim como este. Um abraço.
SEUS POEMAS SÃO MARAVILHOSOS.
QUANTO MAIS EU OLHO MAIS TENHO VONTADE DE LER.
Amiga, vi o seu blog: encatado, tormei um seguidor... Belo trabalhho de amor a vida e a poesia, aos sonhos e a utopia...
Abraços, com imensa ternura, Jorge Bichuetti
Visite-me, quando puder.
Blog: www.jorgebichuetti.blogspot.com
De vez em quando aqui me encontro. Obrigada, amiga.
A 19 de Março vai sair um novo livro meu. Se me enviar a morada tenho todo o gosto em lho oferecer.
O meu mail : gracampires@hotmail.com
Beijos
De vez em quando aqui me encontro. Obrigada, amiga.
A 19 de Março vai sair um novo livro meu. Se me enviar a morada tenho todo o gosto em lho oferecer.
O meu mail : gracampires@hotmail.com
Beijos
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