Outro modo de ser e de viver,
Onde p’ra ser feliz seja preciso
Apenas ser;
Onde uma Nova Terra áurea receba
Lagrimas, já diversas, de alegria,
E em Outro Sol nosso olhar outro beba
Um Novo e Eterno Dia;
Onde o Áspide e o Pomba de nossa alma
Se casem, e com a Alma Exterior
Numa unidade dupla – sua e calma –
Nossa alma viva, e à flor
De nós nosso intimo sentir decorra
Em outra Cousa que não Duração,
E nada canse porque viva ou morra –
Acalmaremos então?
Não: uma outra ânsia, a de infelicidade,
Tocar-nos-á como uma brisa que erra,
E subirá em nós a saudade
Da imperfeição da Terra.
6-11-1912
Fernando Pessoa
Em Poesia do Eu
- Obra essencial de Fernando Pessoa
Editora Assírio & Alvim – 2006 –
3 comentários:
Acredito que aconteceria isso mesmo. Um abraço.
Paraíso, a nossa utopia.
Adoro F.Pessoa.
bjs
É sempre tão bom ler Fernando Pessoa. Obrigada.
Um beijo.
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