A alma é um cenário.
Por vezes, ela é como uma manhã brilhante e fresca,
inundada de alegria.
Por vezes ela é como um pôr do sol...
triste e nostálgico.

-Rubem Alves-

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sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

ÚLTIMA CARTA


Te ofereço Abril —
Abril subindo as escadas noturnas
onde o silêncio acumulou as heras do longínquo
Abril fitando um céu fluorescente
debruçado em sacadas e colunas.
Te ofereço a minha paz —
Este modo tranqüilo de ser
como um pôr-do-sol na minha terra.
Te ofereço o antiqüíssimo crepúsculo,
a tradição dos relógios antigos
e a doce alegoria dos cartões-postais.
Te ofereço esta árvore, tão provinciana,
que ainda sabe amadurar seus frutos
entre sombras e pássaros.
Tudo o que a tua infância não provou
e que a tarde como um canto rememora.
Mas não aceites nada —
que isso são coisas tristes do passado
e eu prefiro o teu sorriso
em que os dias eternos se renovam.

Ivo Barroso

Burocrático


Importante empurrar o dia
como quem come
a dieta do nada
sem ter fome?
Importante é extrair
de sua
substância vazia
alguma ânsia.

Ivo Barroso

Nasceu em Ervália, Minas Gerais, em 1929 e transferiu-se para o Rio de Janeiro em 1945. Cursou o Colégio Vera Cruz, bacharelou-se em Direito pela Faculdade do Catete e em Línguas e Literaturas Neolatinas pela Nacional. Foi um dos fundadores da revista Senhor e do Suplemento Dominical do Jornal do Brasil. Foi assistente do redator-chefe das Enciclopédias Século XX, Delta Larousse e Mirador Internacional. Foi editor-chefe da revista Seleções do Reader´s Digest, em Lisboa.

Residiu na Holanda, em Portugal, na Inglaterra, na Suécia e na França. De regresso ao Brasil, após 25 anos de ausência, organizou a edição Poesia e Prosa de Charles Baudelaire para a Nova Aguilar e publicou as obras completas de Arthur Rimbaud pela Topbooks. Fez parte do Conselho Editorial da Poesia Sempre. Prêmios Jabuti e Biblioteca Nacional. Foi tradutor de vários livros importantes de poesia e de prosa da literatura mundial.

Obras originais: Nau dos náufragos (poesia) Lisboa; Visitações de Alcipe (poesia) Lisboa; O corvo e suas traduções (ensaio).

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Maresias


São tumultos
são ondas
marés
motins.
São vagas
tão bruscos
os movimentos
da água
onde eu
navego.

Miriam Portela

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Vida



Na vida
é preciso
continuar
levando
o choro
a dor
aonde vá

Contudo
é preciso
continuar
porém
para onde
sabe-se lá

Será até
quando
as coisas
e interesses
os choques
se encontram

Para que
pensar
Importa
continuar

Para cima
ou para
baixo
aprendendo
ou não
aí está...

É a Vida
e nela
não há
como olvidar

A Vida
é a Vida
é preciso
continuar

Waldemar Zveiter
de 'Singularidades'

Waldemar Zveiter, advogado, poeta,escritor, nasceu em Brasópolis, Minas Gerais em 08 de julho de 1932. Concluiu o Bacharelado em Direito - pela Faculdade de Direito de Niterói, em 1957. No Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, foi desembargador, presidente da Sétima Câmara Cível, membro do Conselho da Magistratura e membro suplente da Comissão de Concurso para ingresso na Magistratura. membro jurista do Tribunal Regional Eleitoral do Estado do Rio de Janeiro. Ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), de 18/5/1989 a 16/3/2001.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

LIRA DO PÔR DO SOL


Volto na tarde sem brisa,
vou pelos túneis do tempo,
para ver se em algum atalho
encontro a manhã da infância,
cheia das rosas de maio,
cheia de andores azuis...

- Nas procissões da Esperança,
eu tinha pássaros na alma
e ramos verdes na mão...
Nossa Senhora da Glória!
ao longo das alamedas
quanta luz havia então!

Volto na tarde sem brisa...
Mas só encontro os presságios
dos nimbos que se aglomeram
da grande noite parada
no chapadão dos novembros...

-Em que atalho do passado,
em que alameda perdida
ficou a manhã da infância,
cheia de rosas de maio
cheia de andores azuis?


Antonieta Borges Alves
In Lírios de Pedra
* Nasceu em Cruzeiro (São Paulo)18/09/1906.
Jornalista, Poeta e professora.