A alma é um cenário.
Por vezes, ela é como uma manhã brilhante e fresca,
inundada de alegria.
Por vezes ela é como um pôr do sol...
triste e nostálgico.

-Rubem Alves-

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terça-feira, 14 de dezembro de 2010

'Oferecendo de beber a Pei Ti'


Vem beber um copo e descansar,
os homens mudam sempre, como as ondas do mar.
Nós dois temos envelhecido juntos,
apesar dos reveses, continuamos vivos.
O primeiro a habitar uma casa de portões escarlates
pode sorrir, ao olhar os outros de chapéu na mão.
Tu sabes, basta um pouco de chuva
para reverdecer a erva dos caminhos.
O vento da Primavera é ainda frio
mas os botões das flores quase desabrocharam.
Por que tanta pergunta, tanta luta,
os negócios do mundo, as nuvens flutuantes?
Descansa, deixa fluir a vida,
e vem jantar comigo.

Wang Wei*

'Poemas de Wang We'i,tradução, prefácio e notas de António Graça de Abreu,
Instituto Cultural de Macau, 1993, p.170

*Wang Wei (Taiyuan, Shanxi, 701-761) foi um pintor, calígrafo e poeta, e estadista chinês da Dinastia Tang. Também foi conhecido como o "Poeta de Buda".

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

TOPOGRAFIA*

Nas mãos,
a planta aflita
da cidade.

Nas mãos,
em concha,
o homem
acolhe da vida:

O alarido
dos bares,
os cantos e sinais,
as danças circulares.

Os sinais de sereno
embalam
sua vida insone.

Nas mãos,
a boca e línguas
da sua idade.

As vozes, luzes,
esquinas, escolas,
parques, mercados,
feiras, infância e infâmia:

Acasos e ocasos
que aviltam
seus sonhos e olhos
sem qualquer cerimônia.


*Jairo De Britto,
em “Dunas de Marfim”

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

CHOVE


a memória como um tronco
e o amor brota-me olhos
de cogumelos azuis
...
(Nunca esquecerei que à entrada daquela mata, sob a chuva, tinha um tronco e que nele brotou o encanto de cogumelos azuis.)

Fernando Campanella

Foto do blog 'Meu Porta-Retratos', por Taíla