quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008
"MANHÃ ENTRE ÁRVORES"
Claro azul matinal, cortado de asas claras;
Num frêmito, sorrindo, a alma verde do campo;
Finas tramas de luz, suavíssimas e raras,
Vestindo a penedia, a praia, o mar escampo...
Anda esparzida no ar, maravilhoso e casto,
Uma unção de bondade e de carícia extrema.
Vem do arvoredo em flor, murmurejante e basto,
Em ondas, o fulgor de uma vida suprema.
Céu de safira, mar de esmeralda tremente ...
A ária fulva de luz, a indômita alegria
Dos pássaros ... Que dia! Isto deifica a gente.
Vou-me ao campo gozar da esplendidez do dia.
Saio. Uma brisa leve estremece a folhagem.
E sigo, envolto em luz e bêbedo de sons.
Galgo o outeiro e daí, do alto, abranjo a paisagem,
Na insólita explosão multíplice dos tons.
. . .
Ver as árvores, ver esses verdes delubros ...
Tanta festa de amor sob essas ramas! Vê-las,
Heróicas, suspendendo os frutos, ora rubros,
Ora fulvos, lembrando um punhado de estrelas!
Como os gozos daqui, trópicos, rutilantes,
Com o meu guloso olhar de desejos vibrado!
Como a árvore me estende os braços tremulantes,
Para a festa pagã desse vinho aromado!
Aves, aos turbilhões, voejando em torno, inquietas ...
Com as aves também vou, na mesma ânsia insofrida,
Nesses frutos sorver, como em taças repletas,
Luminosas porções flamejantes de vida.
Frutos áureos, à luz, estrelejando as ramas
De incidências iriais e vívidas de sol ...
Frutos, glória do olhar, vermelhos como as chamas,
Como o pedaço vivo e quente de arrebol!
..................................................................................
Árvores, sois na terra o símbolo bendito
Da bondade e do amor, do carinho risonho:
Agasalhais o mau, a ave, a fera, o precito;
Dais o fruto, que é a Vida; e dais a flor, que é o sonho!
Arthur de Salles
in "Sete Tons de Uma Poesia Maior"
Ed Record- Cláudio Veiga-1984-
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário