A alma é um cenário.
Por vezes, ela é como uma manhã brilhante e fresca,
inundada de alegria.
Por vezes ela é como um pôr do sol...
triste e nostálgico.

-Rubem Alves-

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quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Sombras sonoras




Numa tarde de abril, serena e lânguida,
eu me entretinha absorto a imaginar.
Como flores de calêndula no ar
a minha tarde se fazia cândida –
os amarelos eram parte grande da
cor que inundava a tarde no lagar.
Enquanto eu me inclinava a meditar,
o pôr-do-sol ia buscar o sangue da
aura pra tingir o céu aberto,
tremeluzindo o sol, quase encoberto,
a rendilhar o outono tropical.
E as borboletas, palpitando cores,
vão da calêndula beijando as flores
em um silencioso carnaval.

Ildásio Tavares 
Excerto do Livro -  Sombras Sonoras

domingo, 1 de fevereiro de 2015

""Children of the nigth""


(A los niños de Irak, Sudán, Kosovo, 
Colombia)

(Español & Português)


Bárbara es la hora
en que los niños se adormecen
con lágrimas ya secas.
Surcos sin memoria
en el infierno atravesado sus rostros.

Caminan como abandonando
callan como un siglo sin palabras
se muerden los labios
esperando que el verbo se convierta en pan
y les calme un hambre interminable
Cuando hablan si es que lo hacen
un puñal les sale de la boca
un odio agrio les parte la garganta en mil pedazos
y ya no les sale sangre
apenas preguntas que lanzan al aire como pelotas filosas
para seguir andando
para curtir abismo
para fluir de piedra
salen en las fotografías de los periodistas
y su mirada de huérfanos eternos nos resulta demasiado
Niños del desierto o del mar distante
un continente los escupe para que otro los rechace
Sin honor sin patria alguna vez madre
Niños sin nadie sin nada flotando
vida que terminará antes de lo probable
por su previo veneno
Apenas la cerca o la bandera rota
Recuerdos mutilados de noche perpetua
Por una maquinaria de horrores
Y su artillería infame
Para ellos no hay esperanza
Que nadie se engañe.



Consuelo Tomás Fitzgerald
(1957, Bocas del Toro, Panamá).



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"Children of the nigth"

(Ás ciranças do Iraque, do Sudão, Kosovo, Colombia) 



Bárbara é esta hora
em que os meninos adormecem
com lágrimas já secas.
Sulcos sem memória
no inferno atravessado seus rostos.

Caminham como-que abandonando
calam como um século sem palabras
esperando que o verbo se transforme em pão
e acalme a forme interminável

Quando falam se é que o fazem
um punhal sai da boca
um ódio ácido rompe a garganta em pedaçõs
e já não lhes escorre sangue
apenas perguntas que lançam no ar como bolas afiadas
para seguirem andando
para curtirem abismo
para fluirem da pedra

saem nas fotografías dos jornais
com a mirada de órfãos eternos parece excessivo
Meninos do deserto ou do mar distante
um continente cospe-os para que outros os rechacem
Sem honra sem pátria alguma vez mãe
Meninos sem ninguém sem nada flutuando
vida que terminará antes do provável
por seu veneno antecipado

Apenas a cerca ou a bandeira rota
Lembranças mutiladas de noite perpétua
Por uma engrenagem de horrores
E sua artilharia infame
Para eles não resta esperança
Que ninguém se engane. 



Consuelo Tomás
Tradução de Antônio Miranda

''Viver''



Mas era apenas isso,
era isso, mais nada?
Era só a batida
numa porta fechada?

E ninguém respondendo,
nenhum gesto de abrir:
era, sem fechadura,
uma chave perdida?

Isso, ou menos que isso
uma noção de porta,
o projeto de abri-la
sem haver outro lado?

O projeto de escuta
à procura de som?
O responder que oferta
o dom de uma recusa?

Como viver o mundo
em termos de esperança?
E que palavra é essa
que a vida não alcança?


Carlos Drummond de Andrade,
in 'As Impurezas do Branco'